Entrevista

Um encontro entre caros amigos

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Um encontro entre caros amigos Licínio Azevedo, Carlos Caramez, Caco Barcellos e Emilio Chagas nos estúdios da Cubo Play (Reprodução)

No final do ano passado, o jornalista Licínio Azevedo veio a Porto Alegre para a retrospectiva cinematográfica Um gaúcho em Moçambique, realizada na Casa de Cultura Mário Quintana, sobre sua obra. Escritor, roteirista e diretor gaúcho, Licínio participou de um encontro, gravado nos estúdios da Cubo Filmes, com os amigos Caco Barcellos, Carlos Caramez e Emilio Chagas.

Licínio mora e trabalha em Moçambique desde meados dos anos 70. Lá ajudou a fundar o Instituto Nacional de Cinema, ao lado de Ruy Guerra, sendo atualmente um dos cineastas mais premiados da África. Ele veio de Maputo para comentar os seus filmes, durante uma semana, na sala Paulo Amorim, e aqui encontrou Caco Barcelos, que saiu de São Paulo para prestigiar o amigo, Carlos Caramez, que veio do Rio de Janeiro para participar da curadoria e organização da mostra, além do também jornalista e publicitário Emilio Chagas, seu velho parceiro de jornadas na capital gaúcha e quem ajudou Caco a formatar o trabalho com as denúncias sobre a Rota, tema do imperdível Rota 66, a história da polícia que mata (1992), vencedor do Jabuti no ano seguinte.

Licínio Azevedo e Carlos Caramez (Reprodução)

Neste encontro, que fará parte do documentário que está sendo gravado pela Cubo Filmes, os anos 70 foram passados em revista, destacando a efervescência cultural da capital gaúcha, o surgimento da imprensa alternativa independente e a atuação da censura e dos órgãos de repressão contra jornalistas, na época. Foi aqui em Porto Alegre que estes quatro personagens começaram a trilhar suas carreiras profissionais e se tornaram grandes amigos para toda a vida.

Selecionamos para publicar com exclusividade, aqui na revista Parêntese, um trecho inédito do papo em que Caco Barcellos fala do começo da sua carreira profissional, o modo como todos se conheceram no colégio Júlio de Castilhos e a sua parceria com Licínio Azevedo. Caco e Licínio trabalharam juntos na Folha da Manhã, depois na revista Versus, em São Paulo, e foram parceiros de várias itinerâncias jornalísticas pelo Brasil e América Latina. 

Caco também fala do bairro Partenon, onde nasceu, da sua primeira reportagem publicada no jornal local DLUCT, do primeiro emprego na Folha da Manhã, da comunidade “hippie” onde morou com os amigos, em Porto Alegre, da perseguição que sofreram por parte do famigerado delegado do DOPS Pedro Seelig, das suas andanças pela América Latina, das suas aventuras em Nova York e da influência dos seus amigos na sua formação como repórter. 

Fala também sobre o futuro da reportagem e do jornalismo e faz revelações inéditas de como criou o seu banco de dados, que resultou no seu livro Rota 66, agora transformada numa série da Globo Play e por meio do qual foi possível analisar as circunstâncias dos crimes cometidos pela polícia militar de São Paulo e o perfil das vítimas, na sua maioria inocentes. A obra ainda aborda as relações da Academia Militar de West Point (EUA) com a Rota e como esse sistema continua intocável, até os dias atuais.

Segundo Caco, Rota 66 tem novamente tudo a ver com estes amigos e parceiros de Porto Alegre: “Não sei se você lembra, Licínio, aqui em Porto Alegre, a gente já estava ligado nesse tipo de conduta das polícias militares. Não sei se podemos chamar só de editoria de polícia, talvez o mais correto seria chamar de violência e injustiça. Porque o que era o jornalismo policial na época? Sempre as pessoas mais pobres, os negros e filhos dos trabalhadores de baixa renda é que eram notícia. Nunca a polícia ou a segurança pública eram questionados. Mas a gente fazia bastante denúncia de tortura da polícia, porque descobrimos, não me lembro direito como, e talvez o Licínio possa relatar melhor, porque eu acho que era a editoria que não chamava muita atenção da ditadura por ser a dos pobres, que eram os protagonistas das histórias, negativamente falando. Não davam importância porque era só notícia de quem eles achavam que era bandido, e a gente aproveitava para contar histórias de conteúdo muito mais importantes que envolvia a denúncia contra as forças de segurança da ditadura”.

Caco Barcellos e Emilio Chagas (Reprodução)

Entre as muitas curiosidades inéditas reveladas neste encontro, está a primeira influência de Caco Barcellos na reportagem profissional, que, segundo ele conta: “veio da Rádio Guaíba, com o Flávio Alcaraz Gomes, que era um repórter muito atípico porque, imagina, morando em Porto Alegre, que já é uma cidade um pouco isolada do país, né? Isolada acho que é termo muito forte, mas ele costumava fazer coberturas internacionais narrando guerras, como a do Oriente Médio, e a primeira referência que eu tenho era a de ficar impressionado ouvindo ele narrar suas reportagens com os ruídos da guerra, ao fundo. Ele me deu, talvez, a segunda grande aula de jornalismo. Quer dizer, as primeiras influências foram do Emílio e na sequência sempre o Licínio, dando uma super força para os meus textos, que eram horrorosos com muitos erros de gramática”.

Caco Barcellos já trabalhou nos veículos mais importantes da imprensa brasileira e é autor ainda de Nicarágua, a revolução das crianças (1982), O Abusado: o dono do morro Dona Marta (2003). Ele completou 73 anos, com cinco décadas de carreira jornalística. Atualmente é repórter da TV Globo, onde comanda o programa Profissão Repórter. Ele será o grande homenageado do 18º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo – Abraji, a ser realizado este ano, entre os dias 29 de junho e 2 de julho, em São Paulo.

A seguir, o vídeo do bate-papo:

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