Entrevistas

Bolsonarista convicta

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Bolsonarista convicta

Uma conhecida nossa, em conversa sobre os eventos macabros do dia 8 em Brasília, contou de uma amiga, Cris, que tinha uma parente envolvida nos fatos, que havia sido detida na capital. Perguntamos se essa amiga se disporia a contar algo, e aqui vai o depoimento dela, contando da parente.

Cris: Não tenho muito contato com ela [essa parente]. Moro há 25 anos fora do RS, tenho pouquíssima relação com a família que mora em São Borja. Meu pai era comunista, morreu há 15 anos e, pelo que me lembro, ele gostava muito dessa sobrinha que virou bolsonarista raiz. Ele tinha muita simpatia pelo marido dela, também pró-Bolsonaro, mas não burro a ponto de ir se expor e quebrar Brasília. Eu entendo que talvez a vulnerabilidade econômica, o fato de ser arrimo de família, talvez explique a militância. Soube que recebeu uns 1500 reais pra viajar, ganhou comida e viagem grátis. Ela não tem nenhuma formação acadêmica, mas fala que o Lula vai instaurar o comunismo e tem medo, precisa lutar por nós. Seus irmãos são todos simpatizantes do Lula, seu irmão mais novo estudou e também não sabe explicar esse desvio familiar. Ela também estava morando no QG do Exército, antes vivia vendendo produtos da Avon.

Parêntese: Ela foi a Brasília, então?

Cris: Foi. Está presa. Tenho áudios curiosos dela. 

Parêntese: Tu poderia nos mandar algum?

Cris: Sim, mando dois.

Parêntese: Podemos publicar?

Cris: Publiquem, por favor. Eu quero muito que ela tenha toda a publicidade que pediu.

Bolsonarista: (detida pela Polícia Federal, manda esta mensagem de áudio, tom eufórico) Oi, tamo aqui, tamo aqui. Deram um prazo pra gente sair lá do QG. Nós saímos e eles não deixaram nós sairmos no nosso ônibus, que tinha de ser acompanhado por eles, aí pegaram não sei quantos ônibus e levaram nós pros federais. Depois trouxeram pra cá. Só que eles tudo bem, eles acharam que a mídia ia mostrar só aquilo que eles queriam. Só que teve gente aqui dentro que eu vi, eu mostrei, um horror de gente desmaiando, dormindo no chão, com frio, desesperado, vieram correndo do QG, saíram de lá apavorados, deixaram barraca, roupa, comida, os pertences porque acharam que o prazo já estava acabando. Uma loucura! Então assim, ó, eu não sei, vou ver. Teve um pessoal que já foi dar depoimento, quem tinha arma na mochila, faca, alguém fez interpretação lá, e como eu não tenho nada a temer, eu tô tranquila. Só que a gente tá resistindo pra dar tempo das outras pessoas procurarem recursos, entendeu? 

Bolsonarista: (horas depois, outra mensagem de áudio, em tom disfórico) Tudo bem, tudo bem. A verdade é o seguinte: eu agradeço a Deus por eu ser assim. Faria tudo de novo. Porque pelo menos, se acontecer alguma coisa, eu sou uma mulher guerreira. Lutei pelo meu país (voz embargada). Tamo aqui, né. Mas, se Deus quiser, vai dar tudo certo (fungada). Pra nossa felicidade é que quando deu o negócio lá, nós chegamos lá, chegamos sete e vinte, sete e pouco, e já tava o angu lá, entendeu? Se Deus quiser vai dando tudo certo.

Depois de enviar este áudio, a bolsonarista perdeu acesso ao celular. Continuou detida. Parece que vai ser liberada, com tornozeleira eletrônica.

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