Ensaio | Parêntese

Fabio Pinto: Distopia portenha, Parte III

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Fabio Pinto: Distopia portenha, Parte III
Uma breve história de O Eternauta e de seu criador, Héctor Germán Oesterheld Terceira parte (final) – Acesse também Parte I e Parte II A sessenta e três anos do lançamento da primeira versão de El Eternauta, cinquenta e um anos do lançamento da segunda, e quarenta e três anos do sequestro e desaparecimento de seu criador, Héctor Oesterheld, um acontecimento promete acrescentar uma nova dimensão às releituras de sua historieta mais conhecida: o investimento de 15 milhões de dólares feito pela Netflix na produção de uma série baseada na saga do Eternauta.  Não é a primeira vez que a possibilidade se apresenta, mas é a que talvez tenha mais chances de concretização. Diretores como Adolfo Aristarain, o lendário Fernando ‘Pino’ Solanas – diretor de Tangos – o exílio de Gardel (1985) e Sur (1988) – e o espanhol Alex de la Iglesia chegaram a idealizar versões cinematográficas de O Eternauta, e quem chegou mais próxima da realização, tendo dedicado dois anos à elaboração de um roteiro original baseado na história [1], foi Lucrecia Martel. Famosa por filmes de repercussão internacional como O pântano (2001), A mulher sem cabeça (2008) e Zama (2017), a diretora, natural da região de Salta, no noroeste argentino, chegou a fazer testes de efeitos especiais para o filme, mas esbarrou em restrições orçamentárias e desentendimentos com a produtora, o que levou ao cancelamento do projeto.  O realizador da vez é Bruno Stagnaro, diretor de Pizza, cerveja, cigarro (1998) e da série Okupas (2000), protagonizada pelo então iniciante Rodrigo de la Serna, destaque na temporada mais recente de Casa de Papel. O Eternauta da Netflix ainda não tem previsão de estreia. Evento de lançamento do projeto da Netflix. No palco, o norte-americano Reed Hastings, criador e CEO da plataforma, e o ‘vice-presidente de Conteúdos Originais’, Francisco Ramos. As possibilidades de adaptação da série de ficção científica de Oesterheld, não só para o campo audiovisual, se devem, entre outras razões, ao fato de que se trata de um produto cultural que não chega intacto, com sentido pronto e cristalizado, ao leitor contemporâneo. A seu modo e com os recursos disponíveis, Oesterheld criou uma história em quadrinhos potencialmente interacional, prevista, de alguma maneira, para, como sugere o subtítulo da primeira versão, ser “um encontro com o futuro”.  Talvez venha daí a impressão, referendada por alguns pesquisadores argentinos, de que se trata de uma obra premonitória. Como afirmava Umberto Eco, em um artigo sobre outra obra aberta, Casablanca (Michael Curtiz, 1942), “se a arte reflete a realidade, é fato que a reflete com muita antecipação. E não há antecipação – ou vaticínio – que não contribua de algum modo a provocar o que anuncia”.   Os sentidos ainda em rotação de O Eternauta são construídos a partir da convergência de diversas narrativas – formuladas, em diferentes mídias e espaços de circulação. Vejamos algumas delas. Em 2001, durante a grande crise econômica do governo De la Rúa, começa a surgir nas paredes e muros de Buenos Aires a imagem do Eternauta, […]

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