Filosofia na vida real

Até que a razão os separe. Cena 10 – Clare Chambers

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Até que a razão os separe. Cena 10 – Clare Chambers
Este texto encerra a série “Até que a razão os separe”. Foram dez semanas levando leitoras e leitores para um passeio magnífico, em que Eduardo Vicentini de Medeiros repassou uma história repleta de reflexões filosóficas sobre o casamento. Todas as publicações anteriores podem ser acessados neste link. Capa de Against Marriage. An Egalitarian Defense of the Marriage-Free State. O casamento foi e ainda é um tema vivo na Filosofia. Taí o século XXI que não me deixa mentir. Em duas décadas assistimos a uma estimulante profusão de publicações sobre o tópico, que por vezes é difícil acompanhar. Daquela diminuta fração que já tive o prazer de visitar, destaco alguns casos de excelência.  Cheshire Calhoun nos deu o afiado e requintado Feminism, the Family, and the Politics of the Closet: Lesbian and Gay Displacement (2000). Elizabeth Brake produziu uma obra vigorosa com Minimizing Marriage: Marriage, Morality, and the Law (2012). Brake também editou uma animadíssima coletânea de ensaios, After Marriage. Rethinking Marital Relationships (2016) que vale cada capítulo. Tamara Metz, Untying the Knot: marriage, the state, and the case for their divorce (2010) não pode ficar de fora.  Clare Chambers, uma das mais recentes professoras de Filosofia Política em Cambridge, publicou uma joia em 2017, Against Marriage. An Egalitarian Defense of the Marriage-Free State, com elegância e capacidade de análise impressionantes. Em tempo, para quem conhece as extenuantes etapas da concorrida carreira universitária na Inglaterra, chegar a “professor” é uma maratona intelectual para poucos nos dias que correm.  Entre o lançamento de Casamento e Moral em 1929 e a publicação de Against Marriage. An Egalitarian Defense of the Marriage-Free State em 2017, inúmeras revoluções comportamentais provocaram sacudidelas colossais no território do casamento. Balançando os quadris no embalo do sax de Charlie Parker, os beatniks chutaram o pau da barraca do resiliente puritanismo da ética protestante no mais capitalista dos países capitalistas. Menos de uma década se passa e dedos ágeis correndo sobre escalas de guitarra elétrica substituem o sofro frenético dos metais do Bebop. Sexo, drogas e rock’n’roll, mini-saias causando furor e sutiãs ardendo em praça pública. Hippies contra a Guerra do Vietnã. Paz e Amor. O vocabulário das lutas por direitos civis ganha nova inflexão em Stonewall Inn. Ou seja, mudanças para dar e vender em um cenário moralmente efervescente. Para os nossos propósitos, há duas frentes contemporâneas na batalha política do casamento. Uma é a discussão recentíssima sobre uniões homoafetivas. A outra frente, a rigor uma coalizão vibrante e multifacetada, é constituída pelos reflexos, na filosofia política e na ética prática, das críticas das teorias feministas à instituição do casamento. É na combinação destes esforços que a refrega ganha peso.  A crítica filosófica mais radical que pode ser feita a um determinado arranjo social é propor a sua abolição. Pense na escravidão. Seria o caso de reformar ou abolir? Clare Chambers em Against Marriage. An Egalitarian Defense of the Marriage-Free State vai exatamente na direção mais radical. Aliás, filosofia política sem soluções radicais é um tanto aborrecida, não é […]

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