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Cevando a palavra, de Demétrio Xavier

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Cevando a palavra, de Demétrio Xavier Editora Coragem/ Divulgação

Nosso colaborador eventual aqui na Parêntese, figura conhecida por seu trabalho artístico, como violonista e cantor, assim como por seu trabalho digamos comunitário, com o programa “Cantos do sul da terra”, na FM Cultura, que se desdobrou num programa na TVE com o mesmo nome, Demétrio Xavier lançou um livro agora, na 69a Feira do Livro de Porto Alegre. A obra se chama Cevando a palavra.

Com esse mesmíssimo nome, o Demétrio mantém uma seção de seus programas de rádio e tevê, para designar um momento de leitura e meditação, em que a palavra (lida, sondada, dita, pensada) está no centro das atenções. Palavra, na boca e no pensamento do Demétrio, quer dizer atenção, profundidade, densidade, crítica com espaço para o maravilhamento, por aí afora.

Perguntamos a ele como tem sido essa novidade de ter livro na praça –por sinal belíssimo livro, da editora Coragem, à venda na loja virtual da editora (www.editoracoragem.com.br) e nas ótimas livrarias da cidade.


Mais de um texto do livro Cevando a Palavra refere minha tomada de consciência de um sentido de utilidade coletiva que desenvolvi e aprendi a reconhecer a partir de minha atuação como comunicador.

Sempre escrevi crônicas de sotaque ensaístico, na pretensão de uma espécie de “livre pensamento”, intuitivas, sem, no entanto, jamais descartar o conhecimento formalizado; subsidiárias de minhas vivências, mas cuidadosas, ante os riscos da suficiência e do primarismo auto-referente. Mas eram para mim, ou para a leitura em voz alta para algumas pessoas próximas. Muito antes de chegar ao rádio, o que só ocorreu aos meus 45 anos, já vivia essa associação de meu texto à minha voz, ao meu dizer.  

No ano em que fui alfabetizado, entre os seis e sete de idade, fazia com a máxima rapidez possível os exercícios ministrados ao longo de uma manhã pela professora Iolanda. Enquanto todos os colegas não terminavam o primeiro, eu iniciava um conto. Depois, a cada novo exercício, retomava até finalizá-lo. 

Na hora do almoço, enquanto minha mãe cozinhava apressada para cinco, em seu intervalo de trabalho, eu lia minha obra para ela. Mais: ela sempre disse que eu lhe exigia que me olhasse. Ela fazia o possível; fazia mais e sempre fez, mas não lhe foi possível ver meu livro, vê-lo na Feira – dois elementos de sua adoração, o livro e a Feira.  

Mesmo assim, eu lancei o Cevando a Palavra; mesmo tão de acordo com Tejada Gómez, que disse “como vou morrer sem que minha mãe me veja?” Preciso crer que autografei na praça sob os olhos dela; talvez pense o mesmo, quando morrer.  

Essa Feira do Livro em que apareci, meio assustado, sob esse título de “escritor”, teve por lema “Quem lê, sabe o caminho”. E me fez pensar em “Quem lê o Caminho, sabe.”

Porque cada vez mais me interessam as vertentes de conhecimento tradicionais, não-hegemônicas, populares, autóctones, crioulas, amefricanas. E o Cantos rádio, desde 2011, e o Cantos TV, desde 2022, só fizeram reforçar essa opção. 

E aqui retorno àquilo de utilidade coletiva. Muito mais do que na música e, sem dúvida, muitíssimo além daquele escrever para mim próprio e um punhado de eventuais ouvintes, passei a cevar largo. A comunicação pública me regalou essa dimensão e é por isso que tomo emprestado para o livro o título daquele nosso momento de compartilhar literatura e reflexão na beira do fogo.

No mesmo sentido, a partir do alcance do Cantos do Sul da Terra, Fischer abriu-me o espaço belo e essencial da Parêntese, para que meu texto se arriscasse a perder pequenezes e eu metesse o peito n’água nesse escriturar-me de “escritor”.   

Isso foi fundamental para que eu pudesse pensar no que entrego como serventia.

Seria mentira, no entanto, se eu dissesse que não está mais aqui, como há 50 anos, inteirinha, minha ânsia de ser escutado e minha profunda satisfação quando alguém, afetuosamente, acolhe a minha voz.    

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