Memória

1925: O alargamento da Rua 24 de Maio (Beco do Rosário), atual Av. Otávio Rocha

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1925: O alargamento da Rua 24 de Maio (Beco do Rosário), atual Av. Otávio Rocha

1925: O alargamento da Rua 24 de Maio (Beco do Rosário), atual Av. Otávio Rocha – História

“Governar é construir radiais… e acabar com os becos”.  Ainda que póstero, um slogan talvez apropriado para a governança de Otávio Rocha (1924-1928) em Porto Alegre. 

Se, num tecido urbano, radiais são aquelas vias que convergem para seu ponto central, pode-se afirmar que Porto Alegre já nasceu sob a égide das radiais, com as principais ruas do povoado (atuais Washington Luiz, Fernando Machado, Duque de Caxias, Riachuelo e Andradas) convergindo para a atual Ponta do Gasômetro. Ao longo delas, as principais edificações. Ligando pontos destas cinco vias foram se fazendo os becos. Lugar dos desamparados e desatendidos, ou seja, dos entregues ao “deus-dará”.

Com o tempo o foco central da cidade se deslocou para a Praça XV e o Mercado Público. Foi necessário então pensar-se novas radiais que melhorassem o acesso a este ponto da cidade. Disso se ocupou Otávio Rocha com seus 3 grandes projetos viários: a) o alargamento das ruas 24 de maio (atual Otávio Rocha) e da São Rafael (atual Alberto Bins); b) a abertura da Borges de Medeiros;  c) a abertura da av. Júlio de Castilhos. 

Com os positivistas e seu judiciário as coisas caminhavam céleres. Dois anos depois da posse do prefeito (14.10.1924), os 33 prédios da 24 de Maio já estavam desapropriados, desocupados, em negociação final ou perto da decisão judicial (A Federação, 17.8.1926, p. 7). Isto feito, começaram as demolições e as obras de alargamento. As quais, na esquina da Dr. Flores, bifurcaram-se. Uma parte seguindo até a Senhor dos Passos, outra ligando-se à atual Alberto Bins. Dessa divisão criou-se o triângulo que originou a praça Otávio Rocha. E os moradores do Beco? Como sempre, seguiram se virando nos 30.


O Beco do Rosário e a Praça Otávio Rocha – Representações

O beco do Rosário, a rua 24 de maio e a Praça Otávio Rocha percorrem a história do  imaginário da cidade. Contemporâneas das demolições são as fotos para as reportagens da época (Fig. 1). Ainda que sem nominar o local das cenas, o cotidiano dos becos de Porto Alegre está nas aquarelas de José Lutzenberger (Altötting, Alemanha, 1882 – P. Alegre, 1951), este admirável cronista visual de seus personagens e vivências (Fig. 2). 

Concluídas as obras veio a representação celebrativa. Em 1939 foi colocado num dos cantos da praça o busto do “remodelador” (Fig. 3), executado pelo mestre André Arjonas (Antequera, Espanha, 1890 – P. Alegre, 1950). Homenagem por vezes recolhida aos depósitos da municipalidade, ameaçada de cassação por alguns apocalípticos que não querem nem saber do homenageado (Vanessa Kannenberg. ZH digital, 23.02.2015). Em 1940, Luiz Maristany de Trias (Barcelona, Espanha, 1866 – P. Alegre, 1964) , registrou em grafite os edifícios que se erguiam no local. Entre eles um dos símbolos da modernidade porto-alegrense: as Lojas Renner da Otávio Rocha (Fig. 4).

Mais recentemente este repertório imagético veio a ser saborosamente acrescido pela arquiteta, quadrinista e meticulosa pesquisadora da história da cidade Ana Luiza Koehler (Porto Alegre, 1977 – Em atividade), que, em diversas plataformas (ver Parêntese 15.01.1921), vem reconstituindo os dramas e desafios diários de seus moradores. Entre eles correr atrás dos bondes que passaram a circular pela nova av. Arthur Rocha (Fig. 5).


Fig. 1 – Início das demolições da rua 24 de Maio. In: MÁSCARA, ano X, fev/1927, p. 80. Tirado de: BN Digital, Rio de Janeiro, RJ. 

Fig. 2 – Esquerda: José Lutzenberger. Casa de Rua – Varredora com cachorros, s/data.  Aquarela sobre papel, 18,1 x 16,7 cm. Acervo família Lutzenberger, Porto Alegre, RS. Direita: A carrocinha, s/data. Aquarela sobre papel, 18 x 25,2 cm. Acervo família Lutzenberger, Porto Alegre, RS. Tirado de: Catálogo da Exposição José Lutzenberger – MARGS. GOMES, Paulo (Curadoria) GOMES, Paulo e COUTINHO, Fabio Luiz (Textos). Porto Alegre: Gráfica Palotti, 2001, p. 41.

Fig. 3 – Busto de Otávio Rocha. André Arjonas. 1939. Foto: Adriana Franciosi. Tirado de: ZH Digital, 23.02.2015.

Fig. 4 – Praça Otávio Rocha. Luiz Maristany de Trias, 1940. Grafite sobre papel, 16,2 x 11, 7 cm. Tirado de: Catálogo da Exposição Paisagens de Porto Alegre – Coleção Fernando Cacciatore de Garcia. Porto Alegre, Pinacoteca Rubem Berta, 2015, p. 37.

Fig. 5 – Beco do Rosário. Ana Luiza Koehler, 2015. Capa da história em quadrinhos autoral. Acervo da artista, Porto Alegre, RS. 

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