Memória

1931-32 – Gestação e edição de fantoches, de Erico Verissimo

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1931-32 – Gestação e edição de fantoches, de Erico Verissimo

PORTO ALEGRE 250 ANOS

1931-32 – Gestação e edição de fantoches, de Erico Verissimo – História

Entre 1931 e 1932, foi gestado o primeiro livro de Erico Verissimo: Fantoches. Num contexto relativamente favorável de uma Porto Alegre que, ao seu modo e ao seu ritmo, progredia. Sua indústria já substituía algumas importações. Seu comércio com a zona colonial, centro do país e mesmo com o exterior, até que avançava. As obras públicas geravam empregos. Um tempo em que as pessoas iam muito a cinema, futebol e turfe, liam relativamente bastante e que alguns construíam sua reputação com um livro debaixo do braço (em outro contexto, mas na mesma época, Gramsci aconselhava que os intelectuais orgânicos do PCI a fazerem o mesmo para conquistarem a hegemonia).

Na contramão dessas acelerações históricas, o livro de Erico Verissimo teve um parto demorado. Em setembro de 1931 era anunciado como um novo livro de “contos e sketches” da cidade (Revista do Globo, 12.9.1931, p.17). Em novembro do mesmo ano foi noticiado que “sairia ainda este mês” (Revista do Globo, 7.11.1931, p.32). Mas na publicação o que consta é a data de 1932 (Fig. 1). Entre as razões deste atraso talvez esteja a convalescência “de uma enfermidade”, noticiada em abril de 1931, “que, por algum tempo, o reteve no leito (A Federação, 22/4/1931, p.3).

Para além de seu valor literário (o próprio Erico, quarenta anos depois, diria que “o livro é de pouca ou nenhuma importância literária”), o que aqui se destaca é que a produção do Fantoches ocorreu num contexto em que Erico mais deu publicidade a um traço que iria acompanhá-lo ao longo de sua trajetória literária: o gosto pela ilustração. 


Erico Verissimo, ilustrador – representações

Os rastros deste seu viés desenhista e ilustrador podem ser encontrados na Revista do Globo, especialmente no ano de 1931. Ora caricaturando, ora representando cenas e personagens de contos de outros autores (Fig. 2), assinando como “Erico Verissimo”, só “Erico”, ou apenas com as iniciais E.V.  Como parece ter sido no caso excepcional (teria sido desencorajado de prosseguir?) da capa de um dos números da revista (Fig. 3). 

Em relação ao Fantoches, e como a autoria da ilustração não vem creditada no livro (o que era regra), é grande a chance de ter sido ele o autor da capa. Diferentemente de seus livros posteriores, alguns deles ilustrados por João Fahrion (Fig. 4 – Centro e Direita).

Já para o caso de contos e pequenas peças de teatro de sua autoria, e por ele ilustrados, existem pelo menos dois exemplos. O conto Chico, o qual já publicara em Cruz Alta e na própria Revista do Globo, antes aparecer em Fantoches (Fig. 5 – Esquerda). E a pequena farsa teatral O Cavalheiro de negra memória (Fig. 5 – Direita). Em ambos a presença de dois aspectos que marcam toda a trajetória de Erico. Em Chico, a trama sociológica acima da “profundidade” psicológica. No segundo, a relação entre personagens e autor, e entre a obra e o público (especialmente os indesejáveis críticos). 


Fig. 1 – Esquerda. Anuncio do Fantoches. In: Revista do Globo, ano III, n. 22, 12.9.1931, p.17. Centro: Notícia de impressão. In: Revista do Globo, ano III, n. 26, 7.11.1931, p.32. Direita: Folha de rosto da 1ª edição, do acervo de Fausto Domingues Leitão. Porto Alegre, RS. Composição: acervo do autor, Porto Alegre, RS. 

Fig. 2 – Esquerda. Ilustração de Erico para o conto Manoel Lucio, de Afonso Arinos. In: Revista do Globo, ano III, n.3, 24.01.1931, p. 09. Direita: Ilustração de Erico para o conto A Luz da Outra Casa, de Luigi Pirandello. In: Revista do Globo, ano III, n.5, 07.02.1931, p. 28. Composição: acervo do autor, Porto Alegre, RS

Fig. 3 – Erico Veríssimo (atribuído pela assinatura E.V.)). Revista do Globo, ano III, n.3, 24/01/1931, capa. Arquivos do autor, Porto Alegre, RS.

Fig. 4 – Esquerda. Erico Verissimo (estimado). Capa do livro Fantoches, de 1932. Centro: João Fahrion. Capa do livro O Urso com Música na Barriga, de 1938. Direita: João Fahrion. Capa do livro Aventuras do Avião Vermelho, de 1936. Livros do acervo de Fausto José Leitão Domingues. Composição: arquivos do autor. 

Fig. 5 – Esquerda. Conto Chico, escrito e ilustrado por Erico Verissimo. In: Revista do Globo, ano II, n. 24, 27.12.1930, p. 9. Farsa teatral O cavalheiro de Negra Memória, escrito e ilustrado por Erico Verissimo. In: Revista do Globo, ano III, n.9, 28.02.1931, p.21. Composição: arquivos do autor.

Arnoldo Doberstein é professor e estudioso da história de Porto Alegre.

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