Memória

Lugares da Classe Trabalhadora em Porto Alegre 17: A pedreira dos Ribas no Partenon

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Lugares da Classe Trabalhadora em Porto Alegre 17: A pedreira dos Ribas no Partenon Foto do Instituto de Assistência e Proteção à Infância, que ficava atrás da pedreira.

Durante os anos 1920, o movimento anarquista em Porto Alegre sofreu alguns reveses, fruto da perseguição policial e do crescimento de outras correntes ideológicas entre os operários, como os comunistas e os republicanos. Nesse período, os militantes libertários acabaram fixando suas ações em determinadas regiões, como nos Navegantes, bairro caraterizado pela presença de imigrantes europeus e por inúmeras fábricas, e na Colônia Africana, região marcada pela grande presença de trabalhadores negros e pela proximidade das pedreiras do Montserrat. Foi na Colônia Africana que ficava localizada a Escola Moderna, até que em 1927 as forças policiais invadiram o local, destruindo impressoras e livros. Nos anos finais daquela década, Jesus Ribas Soeiro e Dorvalina Ribas, um casal de militantes anarquistas, por conta das dificuldades em seguir sua militância naquela região, compraram um terreno no Partenon, na Rua Caldre Fião (atual Rua Paulino Chaves), onde abriram uma pedreira.

Dorvalina Ribas era natural de Porto Alegre e havia se formado professora sob forte influência da pedagogia emancipadora de Francisco Ferrer; durante os anos 1910 e 1920, ela deu aulas na Escola Moderna e promoveu uma série de palestras sobre educação. Inclusive, ela era professora quando ocorreu o fechamento à força da escola libertária no ano de 1927. Jesus Ribas Soeiro era um imigrante galego, que se tornou eletricista no Brasil e também passou a atuar em organizações anarquistas. A mudança do casal para o arrabalde do Partenon resultou na criação de uma pequena comunidade anarquista na região, pois a pedreira da família Ribas era explorada de forma cooperativa por imigrantes espanhóis e brasileiros, criando-se assim um pequeno núcleo libertário no morro de Santo Antônio. O famoso jornal anarquista “A Luta”, que foi o mais importante órgão da imprensa libertária de Porto Alegre, teve sua última sede na pedreira dos Ribas, no ano de 1930.

Além do jornalismo operário, a pedreira também se tornou um local importante para a educação e o acolhimento infantil. Na rua dos Andradas, próximo da praça Dom Feliciano, havia uma entidade chamada Instituto de Assistência e Proteção à Infância (IAPI), que se dedicava ao acolhimento de menores e era administrada por uma entidade religiosa; havia denúncias, no entanto, de que essas crianças não recebiam o devido cuidado. Ao saber disso, Jesus Ribas foi até a instituição e trouxe esses menores para sua casa. Em seguida, Jesus Ribas, Dorvalina Ribas, Carlos Guichard e Arquimedes Moreira Azambuja (estes dois últimos eram médicos) instalaram o Instituto em um casarão na rua Humberto de Campos, cujo terreno ficava nos fundos da pedreira. Uma nova sede, mais ampla, foi concluída em 1956, na rua Antônio Ribeiro. O IAPI continua ativo até os dias de hoje, prestando serviços de assistência para crianças em situação de vulnerabilidade social.

Durante a segunda metade do século XX, a área que fazia parte do terreno da família Ribas se modificou bastante. A casa que servia de moradia acabou por ser demolida, no lugar surgiu um grande prédio e o terreno foi recortado pela ampliação da rua Paulino Chaves. Atualmente, naquela região, existe uma extensão da praça Josué Ribas Martins que surge como um cocuruto cheio de pedras e rochas que brotam no chão. Essa é parte da antiga pedreira dos Ribas, que deve ser recordado como um lugar de memória do movimento anarquista e também por um lugar de solidariedade com as crianças mais pobres. 


Frederico Bartz é mestre e doutor em história pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e trabalha como técnico em assuntos educacionais nessa mesma universidade, onde coordena o curso de extensão Caminhos Operários em Porto Alegre.

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