Memória

Lugares da Classe Trabalhadora em Porto Alegre 19: O Salão 1º de Maio e o início do movimento operário no Arrabalde dos Navegantes

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Lugares da Classe Trabalhadora em Porto Alegre 19: O Salão 1º de Maio e o início do movimento operário no Arrabalde dos Navegantes

Como já referi em outro texto dessa série, o arrabalde dos Navegantes foi uma das principais regiões operárias de Porto Alegre. O crescimento da urbanização no entorno da Igreja dos Navegantes se intensificou no final do século XIX, principalmente por conta das fábricas que estavam sendo deslocadas para aquela área da cidade. O desenvolvimento industrial da capital gaúcha, que se iniciou no arrabalde da Floresta e avançou pela avenida Voluntários da Pátria, encontrou na região dos Navegantes (que naquele período também compreendia o bairro São Geraldo) plenas condições de desenvolvimento, com seus grandes terrenos e largas avenidas recém-abertas. Nesse processo também ocorreu o estabelecimento de uma população operária bastante diversa, que irá trabalhar nas fábricas recém-instaladas e também em outros setores, composta de brasileiros e de imigrantes oriundos principalmente da Europa, contando com alemães, poloneses, italianos, suecos, húngaros, espanhóis, sírio-libaneses, entre outros.



Juntamente com essa população operária, numerosa e diversa, também surgiu um movimento organizativo pujante no arrabalde dos Navegantes. O momento inicial desse processo foi uma reunião no Salão Adler, localizado atrás da Igreja dos Navegantes, na rua São José (atual avenida Frederico Mentz), que havia sido convocada para prestar contas das atividades do 1º de maio de 1904 e discutir o problema da miséria entre os moradores do bairro. O encontro atraiu muita gente interessada, mostrando o potencial que aquela região tinha para a organização dos trabalhadores. 

Durante a Greve Geral de 1906, o bairro foi agitado pela mobilização dos operários e das operárias, principalmente das mulheres tecelãs, tendo como um dos pontos de reunião o Salão 1º de Maio. Tratava-se de uma ampla edificação térrea, que ocupava o centro da rua Missões, entre a avenida Germânia (atual Cairu) e avenida Brasil. O local tinha como proprietário Henrique Leuenstein, que o alugava para a realização de reuniões, festas e bailes. Ainda no ano de 1906, no âmbito das organizações operárias, se constituiu o Grêmio Instrutivo e Recreativo 1º de Maio, cujo Presidente era Quintiliano Raupp, organização que era responsável por organizar atividades (principalmente bailes) para os trabalhadores naquele salão.

Nos anos que se seguiram à Greve Geral de 1906, o Salão 1º de Maio se tornou um lugar importante para movimento operário na capital gaúcha. Em março de 1907, o Sindicato dos Marceneiros foi fundado ali, e em outubro daquele ano a União Operária Internacional, que era a agremiação dos militantes anarquistas, mudaria sua sede para esse endereço; nos anos seguintes, o Salão da Avenida Missões continuou recebendo atividades importantes, como as manifestações do Dia dos Trabalhadores e os protestos contra a Lei de Expulsão de Estrangeiros. Na Greve Geral de 1917, o Salão foi sede de uma Comissão da Liga de Defesa Popular, e suas reuniões juntavam uma multidão de trabalhadores engajados. Foi nesse lugar que se deu a fundação do Centro Feminino dos Navegantes, que foi a primeira organização operária voltada exclusivamente para mulheres em Porto Alegre.

Depois da Greve Geral, a presença do Salão 1º de Maio vai desaparecendo dos noticiários. Em 1918, o prédio passou por uma ampliação, conforme uma planta encontrada no Arquivo da Prefeitura Municipal de Porto Alegre. Nos anos seguintes, o proprietário decidiu subdividir aquela extensa construção em pequenas casas de aluguel, que acabaram sendo destruídas a partir dos anos 1960. Nos dias de hoje, resta apenas um espaço vazio entre as construções da rua, como se fosse um indício contraditório da agitação que um dia ocorreu ali.

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