Lugares da Classe Trabalhadora em Porto Alegre 20: o Salão Cosmopolita ou uma investigação acerca de um lugar de memória
Termino minha série de textos sobre os lugares de memória da classe trabalhadora em Porto Alegre contando uma história parcial, fazendo uma pergunta e convidando a uma investigação. Procurei durante muito tempo em minhas pesquisas referências sobre o Salão Cosmopolita ou Salão Roth, que nas décadas de 1880 e 1890 abria as suas portas para reuniões operárias e de diversos clubes populares (especialmente germânicos). Esse mesmo salão, que ficava na rua Dr. Flores, 185, quase esquina com a atual rua Otávio Rocha, no início do século XX passou a abrigar a Sociedade Leopoldina e, durante os anos 1950, uma loja chamada Importadora Americana.
Através de alguns registros esparsos, descobri que o local teria sofrido um incêndio em 1979, o que justificaria a existência de um prédio de muitos andares naquele mesmo endereço, que hoje em dia abriga uma loja de departamentos famosa. Mas teria sobrado alguma coisa do antigo Salão Cosmopolita?
A questão que me deixa curioso é se nada mais sobrou da edificação original ou se a antiga estrutura foi incorporada nesse grande edifício que existe atualmente? Para tentar responder essa questão, fiz uma pequena seleção de fotos que podem ajudar a esclarecer um pouco esse quebra-cabeças.
A primeira imagem que selecionei é uma fotomontagem de um grupo de associados do Clube dos Caixeiros Viajantes (Müsterreiter Club), publicada em um livro sobre a categoria e sobre sua agremiação, que veio à público em 1913. A venda que aparece na ilustração seria um local de reuniões da associação (Vereinslokal), mas poderia ser talvez o Salão Roth, pois o Clube dos Caixeiros Viajantes foi fundado nesse mesmo salão no ano de 1885.
A segunda imagem é uma foto da Rua Dr. Flores no final do século XIX, encontrada no site Porto Alegre Fotos Antigas (www.prati.com.br). Esse prédio se encontra próximo de uma esquina, posição que seria a mesma do Salão Roth ou Cosmopolita, se a rua abaixo for o Beco do Rosário. Um elemento que reforça essa hipótese é o cartaz de café e bilhar, que era típico dos salões naquele mesmo período.
A terceira imagem é um projeto para uma nova fachada da Sociedade Leopoldina, que foi publicada em um livro sobre os 150 anos da entidade (Associação Leopoldina Juvenil, 150 Anos: história e tradição). O projeto parece datar do início dos anos 1930. Fazendo uma comparação com a imagem anterior, vemos que os dois trazem muitas semelhanças entre si, reforçando a ideia que aquele era o antigo Salão Roth.
A quarta imagem é da Importadora Americana, que foi atacada por populares em 1954 (de forma um tanto equivocada), depois do suicídio de Vargas, como um símbolo do imperialismo ianque em Porto Alegre. A foto (retirada da página de Facebook “Porto Alegre Show”), mostra um ponto de vista a partir da praça Otávio Rocha. O que se percebe é que, na passagem de sede da Sociedade Leopoldina para o endereço da Importadora, foi feita uma abertura nas antigas janelas e ocorreram outras mudanças para adaptar o salão para as funcionalidades de uma loja.
A última foto é do mesmo lugar, mas em 2012, um pouco antes de ser alugado pelo Ponto Frio. Percebe-se que existe uma certa semelhança com a fachada da Importadora Americana, mas com outras mudanças que poderiam ser decorrentes do incêndio ocorrido em 1979.
Chegando a essa altura do texto, é possível afirmar uma continuidade nas estruturas da edificação? Existiria algo do salão histórico na atual loja de departamentos? É uma possibilidade, mas faltaria ainda outros elementos para investigar.
Com essa imagem quase atual, deixo um pedido para aqueles interessados na história de Porto Alegre ou que viveram naquela região da cidade em décadas passadas, se pudessem colaborar com essa pesquisa: alguém conhece a história desse endereço? Poderia falar sobre os vínculos que unem o passado desse lugar ao tempo presente?
Muito grato a todos que se interessam pela história das organizações populares da cidade.
Frederico Bartz
