Tania Faillace – A romancista das sete mil páginas
Sul do Brasil, 1964. Imagine uma artista plástica aspirante a escritora que tem seu livro de estreia publicado por uma editora renomada. Rapidamente, ela se faz conhecida em toda a região escrevendo contos, romances e peças de teatro; textos que circulam dentro e fora do país, com versões difundidas na Alemanha, na Suíça, no Canadá e nos Estados Unidos. Ávida por novas experiências, se torna, também, uma das primeiras mulheres a contribuir ativamente para a imprensa escrita local como repórter e colunista, e também como radialista. Transgressora em muitos sentidos e dona de um discurso potente, ela expõe casos de tortura nas páginas dos jornais enquanto, na literatura, critica o conservadorismo extremo e incita mulheres à emancipação.
Imagine agora a mesma escritora em 1976. No auge da carreira, ela decide se afastar do meio cultural e social que impulsionou sua ascensão para desenvolver um projeto pretensioso: escrever um romance épico sobre a miséria brasileira. Estória imensa, cuja extensão abrangeria aproximadamente 200 personagens, mais de mil ilustrações e um “roteiro poético” com canções do tempo da narrativa, tudo isso distribuído em mais de sete mil páginas. Certamente um dos maiores (se não o maior dos) romances de que se tem conhecimento na literatura brasileira, que levaria 18 anos para ser finalizado e custaria à autora o seu desaparecimento.
Pode parecer ficção, mas essa é a história real da romancista e jornalista porto-alegrense Tania Jamardo Faillace. Com diversos livros publicados e devido à sua atuação em veículos de comunicação, ela era reconhecidamente uma pessoa pública entre as décadas de 1960 e 1980, ao menos regionalmente. Desde o início do intenso processo de escrita de Beco da Velha, a tal obra de sete mil páginas, no entanto, seu nome e seu legado vêm sendo gradualmente apagados da memória coletiva.
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