Walmir Ayala
Como nenhum outro de sua geração, ele foi numeroso e diverso, um amoroso da palavra que administrava como única possibilidade de completar o vivido – escrevo para burlar a morte, costumava dizer. Num trânsito entre o trágico e o cômico (esta faceta, a do humor, tão pouco estudada em sua obra), foi operístico em seus enlaces e desenlaces e em tudo que triturou ou transfigurou em prosa ou verso. “Morre o poeta e romancista da solidão” noticiou o segundo caderno do jornal Zero Hora em fins daquele agosto de 1991. Bem mais que um poeta e romancista da solidão, um escritor de amplos recursos estranhamente incompreendido por muitos que ajudou a consagrar. O poeta, o romancista, o contista, o cronista, o dramaturgo, o tradutor, o ensaísta, o memorialista, o crítico de arte, o repórter literário, o antologista, o missivista compulsivo. Com prêmios importantes em quase todos esses gêneros, conquistou gerações de leitores ainda como genuíno contador de histórias infanto-juvenis. Nesse campo, dos livros para crianças e jovens, é autor dos sucessivamente reeditados O azulão e o sol, O canário e o manequim, A pomba da paz (que foi enredo da Portela no carnaval de 1987), O burrinho e a água, Moça lua, O futebol do rei leão… Já os seus três volumes de diários, publicados entre os anos 1960-70, seguem sem reedição, como sem perspectiva de edição estão os seus diários inéditos. Em outros tempos chegaram a dizer que o melhor Walmir Ayala está nessas páginas de memórias. Verdade é que, um pouco à maneira de Gide, ele fez dos seus diários um laboratório de criação.
[Continua...]