Paulo César Pereio: ele é de última!!!!
Ele é de última!!!! Ele partiu. Infelizmente. Era odiado e amado. Ele é de última!!!! Nascido Paulo César de Campos Velho no Alegrete, a mesma terra de Mario Quintana, Ione Saldanha, Sérgio Faraco e João Saldanha. Ele é de última!!!! No entanto, projetou-se no teatro em Porto Alegre no final dos anos 1950 e início da década de 1960 através do hoje mítico Teatro de Equipe. Passou a ser chamado apenas de Peréio, apelido de infância. Mas era um ator de múltiplos recursos. Um amigo que partiu e deixa a cena mais pobre.
Sim, “Ele é de última!!!!” Assim gritaram de modo incessante seus detratores. Entenda-se que a uma sociedade fechada como era a capital gaúcha era por demais excessivo suportar a fúria iconoclasta e efetivamente demolidora exalada pelo senso crítico profundo e agudo daquele jovem ator de cabeleira ruiva que um dia, já ator consagrado e dirigido por José Celso Martinez Corrêa gritou no procênio do Teatro Leopoldina introduzindo um “caco” em “Roda Viva”, a peça de Chico Buarque de Holanda, disse: ” O passarinho que come pedra sabe o cu que tem!!”. Talvez nessa intervenção tenha surgido um dos motivos para a Censura da Ditadura Brasileira interditar a montagem do espetáculo e, no momento imediato, os atores serem agredidos e sequestrados pelo CCC (o Comando de Caça aos Comunistas). Tristes fatos de nossa História e Peréio estava lá assim como esteve noutra proibição, o filme “Terra em Transe” de Glauber Rocha.
Agora, quando ele será uma saudade eterna, os que lhe desdenharam receberão seu legado, a lembrança de sua presença através de uma extensa filmografia em mais de sessenta filmes. Peréio não era de última (categoria) como tentaram lhe carimbar, Peréio era, sim, de primeira, um grande ator do Brasil e também para o mundo e para tanto basta lembrar sua contratação estelar para filmar, em Roma, na cobiçada Cinecittá de Vitorio de Sica e Fellinni. Ele foi recebido com tapetes vermelho e hotel de luxo porém…em gesto tido como tresloucado deu-lhes as costas e voltou para o Brasil de Cacá Diegues, Jabor, Carvana e Babenco, os cineastas brazucas que lhe aguardavam de braços abertos.
Grande Peréio. Ele é de última?
Renato Rosa é marchand e pesquisador.
