Parêntese | Pensata

“Quo vadis” motoqueiro?

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“Quo vadis” motoqueiro? Foto: Marcos Corrêa/PR

Referimo-nos, é claro, às pessoas que a bordo de suas motocicletas, junto do mais despreparado e destemperado líder político que já tivemos até agora, aglomeram-se em tempos de pandemia, atrapalham o trânsito e dão mau exemplo em conduta de pilotagem. Essa “tribo” dos motoqueiros, diria Maffesoli, serve-se ou foi cooptada por um amante do espetáculo público? 

No imaginário popular, é fato que o uso da motocicleta remete a poder, liberdade e um certo grau de rebeldia ao senso comum. Análises de diversos articulistas já exploraram razões de afirmação de poder, sinergia de massas, sensação de pertencimento e identificação. Buscando compreender melhor o que leva essa tribo urbana a agir de forma tão identitária, fomos buscar suporte na Psicologia Social e na Sociologia, através das ditas Representações Sociais. 

As Representações Sociais, como o nome já refere, representam qualquer coisa real ou fictícia, que possa dar um novo significado a algo ou alguém como forma de tornar essa “nova” realidade mais palatável. É portanto um processo de elaboração psicológica social do real. O real pode ser substituído, distorcido e reduzido, gerando uma nova versão da realidade, balizada por valores aos quais um grupo adere. 

A partir dessa construção de identidade, as pessoas passam a agir de forma a atender normas previamente determinadas e orientadas. Ao mesmo tempo cria-se um sistema de antecipação de expectativas que influenciará na interpretação de uma situação, perdendo-se a imparcialidade diante dos fatos. Assim, as Representações geram estereótipos para a manutenção de uma distância social e/ou até geram discriminação entre grupos concorrentes.

É possível reconhecer a criação então de uma representação de liderança a qual são atribuídas qualidades inexistentes e valores restritos a este grupo, posto como diferente e admirável socialmente. Tudo isso simbolizado por um aparato de motos, capacetes e tudo o que pertença a este universo, entendido e tratado internamente como símbolo de poder masculino, mobilidade e liberdade. De fato, isso psicologicamente acaba por fidelizar seguidores da assim criada “marca simbólica” de comprometimento com uma causa e com um líder exemplo de sucesso das idéias desse grupo.

Sendo assim, essa tribo atrai aqueles que nela encontraram um catalisador de sentimentos que quando demonstrados em maior número, e ainda publicamente, constroem um senso comum de que são um sucesso.

Contudo, assim como nem todos os militares partilham do mesmo ideário do atual presidente, nem todos os motoqueiros são seus admiradores, pois em mais esta apropriação indevida de imaginário e usando da visibilidade social que estes grupos têm, o atual presidente só fez foi associar-se oportunamente a estes, com claros fins de propaganda pessoal e política!


Ana Maria Pereira é psicóloga, ex-diretora da Faculdade de Psicologia da PUC-RS
Fernando Alberto Grillo Moreira é coronel da reserva da Brigada Militar

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