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Recomendo: Diário de Hiroshima

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Recomendo: Diário de Hiroshima

Diante do excelente filme Oppenheimer, reconhecido como um dos melhores de 2023, nos resta pensar no seguimento da história, no que aconteceu lá, em Hiroshima, em 6 de agosto de 1945 e nos dias seguintes. Como foi a devastação mortal causada pela bomba atômica, as consequências sofridas pelos 360.000 habitantes daquela cidade, como passou a ser o dia a dia dos sobreviventes? É disto que trata o “Diário de Hiroshima” escrito pelo médico japonês Michihiko Hachiya, diretor do Hospital de Comunicações de Hiroshima, até então um dos melhores hospitais gerais do Japão. A narrativa contempla os 56 dias compreendidos entre 6 de agosto a 30 de setembro de 1945, tendo sido publicada, no Brasil, pela EDIPUCRS – Editora Universitária da PUCRS, em 2009.

Gravemente ferido, com risco de morte, dois dias após o bombardeio, Dr. Hachiya, que estava com 42 anos de idade, empenhou-se em registrar as dificuldades que encontrou, como superou algumas ou como fracassou em outras. Somente o relato dessas situações já seria uma realização extraordinária. Mas, não. Ele o fez com delicadeza, sem autopiedade, sem desejo de vingança e com uma compaixão imensa para com o sofrimento alheio que também era seu. Soube-se feliz por estar vivo. Contou de situações inusitadas, tal como ficar completamente despido a luz do dia em seu jardim quando os efeitos radiativos se fizeram presentes imediatamente após a bomba ter sido lançada. 

Sem saber como lidar com a “doença da radiação”, ele insiste em conseguir um microscópio e, quando o obtém relata os pequenos avanços que alcança e estas descobertas lhe concedem uma satisfação intelectual que não esconde. Escreve sobre os esparsos momentos de descontração como quando ganha um cigarro ou quando recebe visitantes. Ao falar sobre as relações pessoais, valoriza a fraternidade, o sentimento emanado da sua narrativa simples, inequivocamente profunda, e comprometida com a verdade.

O “Diário de Hiroshima” não foi escrito com a intenção de ser publicado, o que lhe agrega um valor a mais, tendo aparecido pela primeira vez em 1955, em inglês, nos Estados Unidos e mantem o   efeito de nos comover além do limite da nossa sensibilidade. 

“Oppenheimer”, o filme, traz de volta o assunto “bomba atômica” e faz com que publicações como o “Diário” do Dr. Hachiya não percam a atualidade bem como reforçam a esperança que venhamos a aprender com Hiroshima.


Andréa Mostardeiro Bonow é pedagoga, participou da criação/implantação da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre, do FUMPROARTE e FUNCULTURA da mesma Secretaria, é sócia-fundadora da associação Amigos da Memória do Hospital Psiquiátrico São Pedro. 

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