Ensaio | Parêntese

Renata Requião: Cápsula, invólucro, torre de babel

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Renata Requião: Cápsula, invólucro, torre de babel Conheci o Maurício há alguns anos. Na Universidade Federal, em Pelotas, numa sala de aula bem pequena. No início éramos uns seis ou sete, depois ficamos em cinco, num curso optativo que eu oferecia no Bacharelado em Artes Visuais. Funcionava como um ateliê, coisa importante para a gente poder imaginar a dinâmica do que acontecia ali. Se não me engano o título era Ateliê de Artefatos com Palavra Escrita. De qualquer maneira, esse título dá conta de contornar as coisas que ali criávamos, sobre as quais pensávamos, a partir do que conversávamos, naquelas tardes de quarta.  Talvez pelo cacoete da Literatura, talvez pelo livre pensar sobre a palavra, pelo interesse com o que a gente faz com o pensamento virando/virado verbo, quando se trata de ver/pensar a produção das Artes Visuais, marcadamente a das Artes Visuais Contemporâneas, ponho sempre o olho na presença da palavra escrita no objeto-coisa-obra criado. fico sempre matutando sobre as relações entre a palavra e a imagem, uma antes da outra, uma na outra. Coisa meio clariceana, decerto. Anda por aí meu maior interesse, hoje ainda maior, pela produção das Artes Visuais. Tanto quando tomada amplamente, via Sistema das Artes, como campo mesmo de produção (o que esse campo de produção cria?!), quanto particularmente, e aí meu ponto de incisão, cirúrgica, também como campo de produção mas agora do pensamento: campo (de conhecimentos gerados pelo homem!) que se faz no enfrentamento da produção de sentidos, exatos em cada obra (antiga e boa discussão de Umberto Eco), ao mesmo tempo que amplos, complexos, variados (como somos os homens). Muito me diverte usar como abreviatura para esse campo de produção “AVC” – pelo espanto, pelo que nos exige, pelo que exige de modificação, e pelo que implica, necessariamente de novos hábitos, físicos inclusive.  Pois o Maurício me chega, então, com sua quietude, lá nas Artes naquele ano, 2014, 2015 talvez. Não era aluno regular, como acontece com frequência no Bacharelado em Artes Visuais, e tinha uma inteligência que se impunha a seu silêncio. Aos poucos fomos ficando amigos. O grupo reduziu, a sala era pequena, a mesa era redonda, eu a enchia de livros (livros de arte, livros de literatura, alguns de filosofia, outros ainda de antropologia, e outros de arquitetura e urbanismo). E o inverno chegava, e a sala ficava quentinha. Tudo ajudou. Uma de suas frases que não me sai dos ouvidos, quase um refrão: “como é bom encontrar com quem conversar sobre as coisas”. Um curso de Artes Visuais Contemporâneas, que tem por base o pensamento poético (as poéticas visuais), se alimenta do real e da conversa sobre o real. É isso, e ali era isso o tempo todo. Foi assim, e assim reiteravam a Andréa, a Flávia, e a Gabriela. Além do próprio Maurício, que me confirma isso a seu modo me chamando para as bancas de TCC, ano passado. Ali a Andrea, advogada em abandono lícito da profissão, se encontrou com os brinquedos infantis, primeiro com os de seu filho, mais recentes, depois […]

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Conheci o Maurício há alguns anos. Na Universidade Federal, em Pelotas, numa sala de aula bem pequena. No início éramos uns seis ou sete, depois ficamos em cinco, num curso optativo que eu oferecia no Bacharelado em Artes Visuais. Funcionava como um ateliê, coisa importante para a gente poder imaginar a dinâmica do que acontecia ali. Se não me engano o título era Ateliê de Artefatos com Palavra Escrita. De qualquer maneira, esse título dá conta de contornar as coisas que ali criávamos, sobre as quais pensávamos, a partir do que conversávamos, naquelas tardes de quarta.  Talvez pelo cacoete da Literatura, talvez pelo livre pensar sobre a palavra, pelo interesse com o que a gente faz com o pensamento virando/virado verbo, quando se trata de ver/pensar a produção das Artes Visuais, marcadamente a das Artes Visuais Contemporâneas, ponho sempre o olho na presença da palavra escrita no objeto-coisa-obra criado. fico sempre matutando sobre as relações entre a palavra e a imagem, uma antes da outra, uma na outra. Coisa meio clariceana, decerto. Anda por aí meu maior interesse, hoje ainda maior, pela produção das Artes Visuais. Tanto quando tomada amplamente, via Sistema das Artes, como campo mesmo de produção (o que esse campo de produção cria?!), quanto particularmente, e aí meu ponto de incisão, cirúrgica, também como campo de produção mas agora do pensamento: campo (de conhecimentos gerados pelo homem!) que se faz no enfrentamento da produção de sentidos, exatos em cada obra (antiga e boa discussão de Umberto Eco), ao mesmo tempo que amplos, complexos, variados (como somos os homens). Muito me diverte usar como abreviatura para esse campo de produção “AVC” – pelo espanto, pelo que nos exige, pelo que exige de modificação, e pelo que implica, necessariamente de novos hábitos, físicos inclusive.  Pois o Maurício me chega, então, com sua quietude, lá nas Artes naquele ano, 2014, 2015 talvez. Não era aluno regular, como acontece com frequência no Bacharelado em Artes Visuais, e tinha uma inteligência que se impunha a seu silêncio. Aos poucos fomos ficando amigos. O grupo reduziu, a sala era pequena, a mesa era redonda, eu a enchia de livros (livros de arte, livros de literatura, alguns de filosofia, outros ainda de antropologia, e outros de arquitetura e urbanismo). E o inverno chegava, e a sala ficava quentinha. Tudo ajudou. Uma de suas frases que não me sai dos ouvidos, quase um refrão: “como é bom encontrar com quem conversar sobre as coisas”. Um curso de Artes Visuais Contemporâneas, que tem por base o pensamento poético (as poéticas visuais), se alimenta do real e da conversa sobre o real. É isso, e ali era isso o tempo todo. Foi assim, e assim reiteravam a Andréa, a Flávia, e a Gabriela. Além do próprio Maurício, que me confirma isso a seu modo me chamando para as bancas de TCC, ano passado. Ali a Andrea, advogada em abandono lícito da profissão, se encontrou com os brinquedos infantis, primeiro com os de seu filho, mais recentes, depois […]

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