Revista Parêntese

Parêntese #155: Roda Viva

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Parêntese #155: Roda Viva

Roda viva, a expressão, existe em nossa língua há um tempo indefinido e indefinível. É uma imagem para falar da velocidade e da intensidade com que coisas acontecem na vida de qualquer um. Estar numa roda: estar na vida.

Mas em 1967, 55 anos atrás, a expressão ganhou um relevo inédito porque um gênio nascido entre nós, Chico Buarque de Holanda, compôs uma canção com este nome, que era parte de uma peça teatral também com essa designação. A canção voou para muito longe dessa condição de parte de um todo: ela virou símbolo de todo um sentimento de época – o momento primeiro da ditadura militar iniciada em 1964, que recrudesceria em 1968 e duraria por toda uma geração, até a segunda metade dos anos 1980. 

Entre as pessoas alfabetizadas, entre os jovens de então e os que vieram vindo, todos ouvintes de rádio e apreciadores do vigor da canção brasileira, em plena floração, “Roda viva” funcionou como trilha sonora: “Tem dias que a gente se sente / como quem partiu ou morreu”. Chico interpretava nosso mais profundo medo, nossa imensa angústia. Chico. Buarque. De Holanda.

Uma juíza – o prezado leitor e a gentil leitora da Parêntese sabem – considerou que não era claro que o autor de “Roda viva” fosse o autor dela, Chico Buarque. Isso no contexto de um processo movido pelo Chico contra o uso cem por cento inadequado de sua criação por um dos filhos do presidente golpista, que aliás deve cair fora em menos de um mês. A juíza não aceitou reconhecer como culpado esse usurpador porque não era claro para ela que o autor da canção fosse quem é.

O que se passa? Na cabeça dessa juíza, prefiro nem dizer; no sistema legal brasileiro, ocorre essa mixórdia formalista, que só reconhece valor no carimbo, no atestado, na palavra da autoridade, e não nas evidências que todo mundo compartilha. 

Então estamos nós na roda viva – mas cheios de gosto por oferecer a edição 155 da revista. Homenageamos o centenário José Saramago, um dos grandes da língua portuguesa de todos os tempos, com um breve artigo e uma linda coletânea de suas frases, ditas ou escritas, obra da Nilza Rezende, que vai seguir na revista por mais quatro edições.

A entrevista é um depoimento do passado: Mauro Póvoas conversou com Arnaldo Campos em 1997, quando fazia seu doutorado, e guardou as palavras dessa querida figura das letras aqui do sul, homenageado na edição 147 e agora por assim dizer revivido na entrevista.

Outra entrevista acontece na seção Forma & Função, nela temos Emil Achutti Bered, arquiteto formado na primeira turma de arquitetos e urbanistas da UFRGS.

O ensaio de fotos é de Carlos Monteiro e nos traz a cidade de Aparecida. Tem também o miniconto de Camilla Matos e o texto dos alunos da Escola Saint Hillaire, que hoje conta com a participação de Ketellem Gomes, no quinto conteúdo da série “E se a periferia fosse o centro?”.

“Ella”, o folhetim da Jane Souza avança para o segundo capítulo, com a danação da personagem percorrendo lugares nada óbvios da cidade. No texto semanal do Arnoldo Doberstein, mais um capítulo da história de Porto Alegre: certos jardins de aspecto francês, que passaram a enfeitar a cidade cem anos atrás.

Samantha Buglione comenta uma exposição de fotos sobre o mundo indígena. Ana Marson conta das recentes inundações em Florianópolis. E Carlos André Moreira resenha um romance de estreia, “Mil placebos”. 

Ah: peço atenção de todos os que nos acompanham para a campanha de assinaturas que está no ar. Nosso sonho é estreitar mais ainda os laços com os leitores e leitoras. Aqui dá pra saber tudo, para assinar, dar assinatura de presente, tudo isso. 

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