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A classe trabalhadora vai ao Oscar

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A classe trabalhadora vai ao Oscar
Foram anunciados na manhã desta terça-feira os finalistas ao Oscar 2018. Em sua 90ª edição, a mais cobiçada premiação do cinema mundial selecionou nove concorrentes à estatueta de melhor filme – dos quais quatro ainda são inéditos no Brasil: A Forma da Água (recordista de indicações, disputando 13 categorias), Lady Bird: É Hora de Voar, Trama Fantasma e Três Anúncios para um Crime. Reflexo da pressão por maior variedade étnica e de gênero entre os finalistas, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas colocou no páreo pelo prêmio de direção um latino (o mexicano Guillermo del Toro, de A Forma da Água), um negro (Jordan Peele, de Corra!) e uma mulher (Greta Gerwig, de Lady Bird). Quero comentar aqui outro aspecto que me chamou a atenção nessa seleção do Oscar e que está presente, com maior ou menor centralidade, em quatro dos títulos com grandes chances de premiações importantes e que ainda não estrearam por aqui: as histórias são protagonizadas por figuras oriundas das classes trabalhadoras. Comecemos pelo campeão de indicações: mistura de aventura de fantasia com drama romântico, o inusitado A Forma da Água se passa na década de 1950, tendo como ambiente um complexo científico-militar norte-americano para onde é levado um monstro recém-capturado, espécie de homem-anfíbio. A tímida e muda Elisa (Sally Hawkins, concorrente ao Oscar de atriz), que trabalha na limpeza dos laboratórios, fica fascinada com a criatura e aos poucos vai ganhando a confiança e a afeição do tal kiko marinho – os mais antigos sabem do que estou falando. Com o auxílio de colegas de trabalho e do vizinho, o artista gráfico gay Giles (Richard Jenkins, na disputa pelo caneco de ator coadjuvante), a sensível faxineira latina tentará ajudar a pobre besta aprisionada. Ainda que naufrague em um sentimentalismo excessivo, especialmente na parte final, A Forma da Água é uma defesa curiosa e muitas vezes dolorida das vítimas da marginalização social, das deficiências físicas, do racismo, da lei da selva capitalista, da homofobia e, sobretudo, da solidão. Despontando como favorito nas principais categorias do Oscar, Três Anúncios para um Crime disputa sete estatuetas, já tendo levado quatro Globo de Ouro – inclusive melhor drama, direção (Martin McDonagh) e atriz (Frances McDormand). Na trama, uma mulher durona que trabalha em uma loja de suvenires – papel que deve render também o Oscar à excelente Frances – resolve tomar uma atitude drástica: reclamar da incompetência da polícia local em descobrir quem estuprou e assassinou brutalmente sete meses atrás sua filha adolescente estampando a denúncia em outdoors de beira de estrada. A atitude indignada sacode a cidadezinha de Ebbing, no Estado do Missouri, abalando em especial o xerife Willoughby, citado em um dos anúncios, e seu estúpido assistente Dixon – interpretados respectivamente pelos ótimos Woody Harrelson e Sam Rockwell, ambos indicados ao Oscar de ator coadjuvante. O longa do realizador inglês Martin McDonagh é um drama policial com fortes pitadas de humor negro, que lembra o já clássico Fargo: Uma Comédia de Erros (1996) – não apenas por […]

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