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A guerra espetacular e íntima de “1917”

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A guerra espetacular e íntima de “1917”
Na corrida para o Oscar, 1917 (2019) mantém-se na dianteira: indicado a 10 estatuetas, o eletrizante thriller de guerra dirigido por Sam Mendes ganhou os Globo de Ouro de melhor filme e direção de drama, além de ter levado alguns dos principais prêmios internacionais da temporada. Ecoando sintomaticamente a própria filmografia eclética do realizador de longas tão distintos entre si quanto Beleza Americana (1999), Distante Nós Vamos (2009) e 007 – Operação Skyfall (2012), 1917 é ambivalente: mostra com grandiosidade os desastres da guerra, mas também ressalta os pequenos dramas individuais; se a história é simples, a narrativa porém é tecnicamente sofisticada e logisticamente hercúlea; evoca os clássicos do gênero no cinema em tom solene ao mesmo tempo em que abraça o ritmo e a lógica dos videogames. Inspirado vagamente nas memórias do avô de Mendes, um veterano da I Guerra Mundial (1914 – 1918), o filme se passa nos estertores do conflito em solo belga. Dois jovens soldados britânicos, Schofield (George MacKay) e Blake (Dean-Charles Chapman) recebem uma missão tão grave quanto potencialmente suicida: cruzar o mais rápido possível o território do inimigo em retirada a fim de entregar uma mensagem para o comandante de um pelotão prestes a atacar os alemães, alertando-o de que irá cair em uma armadilha que pode custar as vidas de 1,6 mil homens – entre eles, o irmão mais velho de Blake. Começa então a perigosa e urgente odisseia dos dois jovens cabos por charcos repletos de corpos, ratos e arame farpado, trincheiras claustrofóbicas e traiçoeiras, fazendas e cidades em destroços, estradas enlameadas e, principalmente, em constante risco de serem atingidos pelo fogo adversário, que pode surgir de qualquer parte. 1917 é um tour de force filmado como se fosse um único plano-sequência de duas horas, sem cortes. O recurso joga compulsoriamente o espectador para dentro da cena: ao percebermos a continuidade da ação em fluxo ininterrupto, acompanhando o tempo todo os personagens em tempo real, sentimo-nos como observadores ainda mais próximos da trama, quase dentro da tela, caminhando pelos cenários ombro a ombro com os protagonistas. O filme, no entanto, não foi rodado em apenas uma tomada: 1917 é o resultado da montagem de vários planos-sequência longos, habilmente montados graças a fusões de imagens que se aproveitam tanto de truques óticos e de iluminação – a entrada dos personagens em um ambiente escuro, a passagem por trás de um muro ou árvore – quanto de efeitos computadorizados de pós-produção, que tornam a transição de uma cena a outra imperceptível para o público. Apesar de inusual, a ideia do filme todo em plano-sequência não é inédita e vem seduzindo realizadores ao longo do tempo: de Alfred Hitchcock em Festim Diabólico (1948) e Alejandro González Iñárritu em Birdman (2014) – que, como Sam Mendes, também simularam uma narração sem cortes nesses filmes – até Aleksandr Sokurov em Arca Russa (2002) e o gaúcho Gustavo Spolidoro em Ainda Orangotangos (2007), que lograram rodar autênticos longas-metragens em plano-sequência. Para alcançar o efeito realístico de seguir a […]

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