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As séries em tempos de vírus

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As séries em tempos de vírus

A humanidade já conheceu muitas epidemias e pandemias na sua história. Pra quem está achando tudo o maior horror de todos os tempos, eu recomendo o ótimo livro Um Espelho Distante, da historiadora americana Barbara Tuchman. Nele, você fica conhecendo o terrível século 13, uma época tão devastadora que o mundo chegou muito perto de deixar pra lá, e motivos sobraram, entre eles a peste bubônica, que a gente hoje trata com antibiótico, porque inventamos os antibióticos, só que uns seis séculos tarde demais para mudar o que eles viveram.

É dever de todos nós proteger aos demais membros da sociedade humana em que vivemos. Já que temos que, e devemos, ficar sossegados e em casa sempre que possível, vamos aproveitar pra fazer uma das melhores coisas que se pode fazer sem que isso traga qualquer risco pra quem quer que seja: vamos ver séries, uai.

Primeiro, achem, em algum lugar, as temporadas de 24 Horas. Essa é uma série desenhada pra fazer você esquecer que existe alguma doença lá fora, já que você vai viver crises estratosféricas de hora em hora. O ritmo alucinante de 24 Horas, onde a ação ocorria em um tempo irreal de mentirinha, vai fazer você esquecer – por um tempo – do mundo louco de agora, em troca dos loucos anos 2000 e pouco.

Se acharam 24 Horas, achem também Band of Brothers, outra série pré-streaming e que por isso vinha dentro de caixas de DVD. Essa produção primorosa foi lançada bem na época de outra hecatombe, o 11 de setembro de 2001, e nos leva pra mais um momento em que o mundo civilizado quase foi pro coco, a Segunda Guerra Mundial, e tudo que ela trouxe.

Uma das melhores coisas que se pode ver é The Marvelous Mrs. Maisel. Eu vi, veria de novo, e recomendo a todos que aproveitem ao máximo a melhor série de humor desses tempos. Uma ex-esposa judia na Nova York esplendorosa do final dos anos 1950 descobre que é uma baita stand up, em um tempo em que mulheres, de qualquer religião, nem sonhavam com esse tipo de atividade. Vejam.

Chernobyl parece muito adequada também, quando se pensa no assunto. A diferença de Chernobyl é que o desastre foi man made, enquanto as pestes são pet made. A narração de como um desastre impossível aconteceu e o que vem depois é uma das melhores descrições dos anos finais do império soviético. Pelamor, vejam.

Wolf Hall é um exemplo do quanto a BBC é perfeita. Atores que eu gostaria de ter aqui em casa só pra olhar pra eles, filmagem à luz de velas, e um grande drama medievalmente real é tudo que você precisa pra um dia ou noite de mergulho na história europeia que nos trouxe até aqui.

A série reúne os dois livros iniciais da trilogia de Hilary Mantel sobre Henrique VIII, contada pelo olhar de seu chanceler, o plebeu Thomas Cromwell. Os dois livros iniciais ganharam o Man Booker Prize, e agora saiu o esperadissimo terceiro livro, The Mirror and the Light.

A série revelou a maravilhosa Claire Foy, e quem faz Thomas Cromwell é nada mais nem menos que Mark Rylance. Você vai entender o que tornou Ana Bolena uma personagem central da história inglesa, do conflito entre Igreja e protestantes, e porque, afinal, ela perde sua bela cabeça. Perca a sua vendo Wolf Hall, e jamais irá se arrepender.

Se curtem detetivescas e mistérios, e quem não curte, as inglesas Collateral, The Night Manager, Body Guard e Sherlock, a canadense Orphan Black, a sueca/dinamarquesa Bron, a australiana Pine Gap, a norueguesa Trapped, as americansa Mind Hunters, Unabomber e True Detective têm que dar conta dos seus dias mais entediados que possam vir por aí.

É tanta coisa que não sei se uma crise desse porte dá conta. Se precisar, a gente volta.

O importante é se retirar um pouco do mundo, lavar as mãos o tempo todo, cuidar direitinho da saúde, ser solidário, e se mandar pro sofazão sempre que der.

A gente faz essa, e faz mais o que precisar. Abraços a todos, e aqui vamos nós.

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