Foto: Miguel Vassy/Divulgação
Breve Miragem de Sol (2019) é um filme lunar. Como em vários de seus trabalhos anteriores – particularmente em Transeunte (2010) –, no novo longa do diretor Eryk Rocha a cidade é mais do que cenário: é também uma presença que condiciona os estados de ânimo e as ações dos personagens e disputa com eles a atenção do espectador. Porém, se o silencioso protagonista de Transeunte mantinha uma relação ambivalente com o Rio de Janeiro, pontuada por estranhamentos e familiaridades, a figura central de Breve Miragem de Sol sente-se excluída e mesmo oprimida pela metrópole: Paulo (Fabricio Boliveira) circula pela capital carioca à noite encaramujado dentro de seu táxi, em permanente desconforto e angústia diante da indiferença e hostilidade da paisagem – uma desordem urbana feita de luzes ofuscantes e sombras impenetráveis, sons rascantes, rostos indiferentes, prédios e veículos que desfilam anonimamente pela janela do carro. Vencedor de três prêmios no Festival do Rio 2019, Breve Miragem de Sol será lançado neste domingo (30/8), exclusivamente na plataforma GloboPlay e nos drive-ins Go Dream do país.
O oitavo longa de Eryk Rocha é uma coprodução entre Brasil, França e Argentina. Rodado inteiramente no Rio, Breve Miragem de Sol conta a história de um homem que busca se reinventar após ficar desempregado e separar-se em seguida da mulher, começando a dirigir um táxi nas noites cariocas. Enquanto enfrenta esse duro recomeço e luta para dar sustento a seu filho Mateus (Cadu N. Jay), Paulo conhece em uma corrida a enfermeira Karina (Barbara Colen, talentosa atriz de filmes como Aquarius e Bacurau). Entre o motorista e a passageira, dois solitários, nasce um romance – uma espécie de respiro de amor e luta, ainda que frágil e intermitente. Acuado pela incerteza quanto ao seu futuro e pela brutalidade da vida na cidade, Paulo tenta encontrar seu lugar no mundo.
Breve Miragem de Sol foi lançado recentemente em território argentino, na plataforma de streaming Cine Ar, e já foi visto por mais de 35 mil pessoas. No Festival do Rio 2019, o longa venceu três prêmios: Melhor Fotografia, Montagem e Ator para Fabricio Boliveira. O protagonista de Faroeste Caboclo (2013) e Simonal (2018) efetivamente brilha em cena: Boliveira empresta ao taxista Paulo uma expressão de constante tensão e alerta, que comunica com sensibilidade ao público o turbilhão interno de seu personagem – um brasileiro que, além das atribulações pessoais, depara com um país em convulsão política, econômica e social.
O mais recente trabalho de Eryk Rocha é o curta-metragem Marcha à Ré, que registrou uma performance urbana em homenagem às vítimas do vírus Covid-19, idealizada pelo Teatro da Vertigem em colaboração com o artista visual e escritor Nuno Ramos. Em forma de cortejo, cerca de 150 veículos se deslocaram em sentido inverso ao longo da icônica Avenida Paulista em direção ao cemitério da Consolação, em São Paulo, no dia 5 de agosto. A obra audiovisual representará o Brasil na 11ª Bienal de Berlim, que vai se realizar de 5 de setembro a 11 de novembro.
Breve Miragem de Sol: * * * *
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