Artigos | Marcelo Carneiro da Cunha | Série

Catarina, a Grande

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Catarina, a Grande Amazon Prime Video/Divulgação

Huzzah!

Se você nunca foi russo, então saiba que esse é o grito de guerra deles. Na verdade, é um grito pra praticamente tudo, e quem já viu cinema russo sabe que eles gritam, gritam muito, e por quase qualquer motivo.

Catarina, a suave princesa alemã levada para Moscou para casar com o czar Pedro III, aliás, primo dela, descobre que o mundo do iluminismo, que ela tanto apreciava, se convertia em algo bem mais sombrio quando atingia os distantes rincões da Rússia Imperial no século 18.

Sobre isso é a nossa série de hoje, The Great, que você pode ver na Amazon Prime Video. A série consegue transformar a violenta, maluca, opulenta e devassa corte de Pedro III em, ora vejam, uma comédia. E, de várias formas, ela consegue ser tudo isso, inclusive divertida.

Se alguma coisa da história real pode ser considerada verdadeira, Catarina nasceu Sofia, luterana e princesa em um dos muitos pequenos reinos alemães do Sacro Império Romano-Germânico. Ela era mesmo prima do rapaz que iria se tornar imperador, ou czar, da Rússia. Ao que parece, detestava o primo, por conta de hábitos como o de consumir bebidas alcóolicas – aos DEZ anos de idade. A falta que faz um bom conselho tutelar, não é mesmo?

Apesar dessa demonstração da alma russa, ela topa casar e ir morar em São Petersburgo. Ela aprende russo, e resolve contaminar o império com ideias iluministas. Ah, ela resolve que isso pode ser melhor realizado se ela remover alguns obstáculos do caminho e, portanto, dá um golpe no marido e assume o trono. Huzzah!

A vida de Catarina (ela adota o nome Ikaterina quando se converte ao cristianismo ortodoxo, pra poder ser rainha) daria uma série, embora dificilmente coubesse na categoria “comédia”. Vale a pena ler sobre ela, e vale a pena ver a série, mesmo que The Great claramente se proponha a divertir enquanto apavora.

Entre muitas coisas interessantes para se pensar é a de que mulheres pudessem comandar impérios nos séculos 18 e hoje seja tão surpreendente ainda termos mulheres eleitas para presidente ou primeiro-ministro. Catarina certamente estava pronta para a missão, e reformou a Rússia de uma forma intensa. Ela era tão além do seu tempo que foi uma das primeiras pessoas do mundo a se inocular com o vírus da varíola, numa forma inicial de vacinação (e muito mais perigosa, porque o vírus estava vivo, e não morto, como nas vacinas modernas). Ela usou seu exemplo para difundir a vacinação em um lugar atrasado como a Rússia, e isso apenas já justifica o sobrenome, a Grande.

A série conta História, mas essa não é a sua função primordial. Importa mais para ela nos deixar tontos com tudo que pode acontecer em uma corte absolutista, comandada por um doido. Qualquer semelhança com o Brasil atual é, e não poderia deixar de ser, mera coincidência.

Eu gostei, e espero que gostem. Uma mulher do tamanho histórico de Catarina merece as várias séries que surgiram sobre ela e, inclusive, uma que proponha contar a sua incrível trajetória usando os poderosos recursos do humor. Vejam.

Huzzah!

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