Artigos | Marcelo Carneiro da Cunha

Como e por que as séries tomaram conta do mundo

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Como e por que as séries tomaram conta do mundo
O mundo das séries como as conhecemos é o mundo da experimentação audiovisual que mais interessa neste tempo, e neste espaço. O povo romântico acha que uma sala de cinema antes, uma pizza depois forma a essência da vida moderna – e está certo. Da vida moderna, sim. Da vida contemporânea, não mais. Não mais, desde que acharam um jeito de fazer um Scorsese por semana em Família Soprano, e isso sem o Scorsese por perto. Se aquilo era possível, se era possível trazer pra sala de estar e jantar algo que sempre foi mostrado nas salas de cinema, se isso era possível, então praticamente tudo era possível, faltanto descobrir mais precisamente o que esse possível representaria. Alguém aí viu Fleabag? Pois é. Desde os anos 1990, as séries de tevê – que são muito mais de não-sala-de-cinema do que de tevê – se tornaram o universo em expansão da experiência audiovisual contemporânea, e é nele que vivemos, gostando ou não. Ou seja, melhor gostar, porque defender sala de cinema também é defender preços estratosféricos e cheiro de pipoca, pensem nisso. Eu cresci no mundo anterior, e muitos dos momentos mais importantes dessa vida foram passados em salas de cinema, ou no banco traseiro de automóveis imensos nos drive-ins americanos. Naqueles tempos, ou você via o Fellini mais recente no Cinema Um Sala Vogue, na Avenida Independência, na leal e valerosa Porto Alegre, ou não via. E não via nunca mais, fora um ciclo daqueles do pequeno e fundamental cinema Bristol, na mesma leal e valerosa. Alguém aí lembra? Eu lembro. O cinema era o que havia. A tevê era a coitada daquela peça instalada na sua sala, com algumas polegadas, escassa definição, som de rádio de pilha, e curva, ainda por cima, praticamente um Ricardo III dos eletrodomésticos da época. Víamos na tevê o que precisava ser visto na tevê, notícias, novelas e comerciais de Danone. Para tudo que fosse respeitável ou com algum significado, corríamos para o cinema mais próximo, a não ser que fosse aquele da avenida Borges de Medeiros, ainda na leal e valerosa, para o qual alguns corriam, mas por outros motivos. Isso mudou, ladies and gentlemen, e por motivos que ao desenvolvimento tecnológico pertencem. Alguém inventou a tal da rede mundial de computadores. Alguém inventou telas com muitas polegadas, alta definição, som dolby estéreo, e na minha sala. Subitamente, eu podia ver a mão, a pintinha, o ar de espanto do personagem, com riquezas e detalhes. Eu não precisava mais ir até o shopping mais próximo e pagar um caminhão de dinheiro empregados em estacionamento, pipoca e um filme. Eu podia ver quando quisesse, porque agora havia a locadora, e nela havia o DVD, e nele estavam todos os pixels que o mundo já tinha inventado. Mais: quando alguém chamado seu Netflix teve a genial ideia de jogar fora a caixa de DVD e enviar tudo no tubo de internet de banda larga que chegou lá em casa, babaus locadora. Agora, amigos, era pra […]

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