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“Fé e Fúria” denuncia a intolerância religiosa

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“Fé e Fúria” denuncia a intolerância religiosa Embaúba Filmes/Divulgação

Conhecido por seus documentários contemplativos e marcados pelo silêncio, o diretor mineiro Marcos Pimentel faz em Fé e Fúria (2019) um longa pautado pela urgência do tema: a intolerância às religiões de matriz africana em favelas e subúrbios do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte. O filme estreia nos cinemas nesta quinta-feira (13/10).

O cineasta conta que, a principio, imaginava Fé e Fúria seguindo a linha de seus documentários anteriores, como Sanã (2013) e A Parte do Mundo que me Pertence (2017), mas o tema desse novo filme pedia outro formato: “Eu estava diante de gente que precisava gritar para o mundo todas as opressões que vinha sofrendo e senti que precisava abrir espaço para que aquelas pessoas fizessem isso. É bem difícil filmar casos de intolerância no momento em que ocorrem. O intolerante não permite ser filmado. Então, o que temos é quem sofre a intolerância relatando o que experimentou”.

Ciente de que não poderia aplicar uma linguagem que não cabia aos seus entrevistados e entrevistas – pessoas que sofrem com a intolerância –, Pimentel procurou aquilo que chama de “a linguagem mais sincera” para que seus personagens se abrissem diante de sua câmera. Essas figuras chegam, primeiramente, por meio de uma pesquisa com as vítimas desse tipo de intolerância – como a menina Kayllane, que levou uma pedrada no meio da rua por estar vestida com trajes de candomblé.

Embaúba Filmes/Divulgação

“Tivemos a preocupação de ser sempre respeitosos, mesmo quando estávamos filmando personagens que possuíam discursos opostos ao que defendíamos. O filme toma partido e condena a intolerância religiosa. Estamos do lado das religiões de matriz africana e contestamos qualquer tipo de opressão. Desde o início, fomos sinceros com os personagens, deixando claro a nossa posição e abrindo espaço para que cada um apresentasse sua visão sobre esta situação”, explica Pimental.

Fé e Fúria aborda também a conduta dos “donos dos morros”, abrindo espaço para que traficantes evangélicos e ex-traficantes hoje convertidos discorram sobre o tema. Para abordar esses entrevistados, era preciso não apenas deixar claro o posicionamento do documentário, mas também ouvir as opiniões dessas pessoas. “Em situações assim, estávamos certos de que a confiança não pode ser quebrada, porque disso dependia a segurança e a integridade da própria equipe. Eles sentiram que podiam se abrir e toparam falar”, conta o diretor.

No roteiro e montagem do longa, Pimentel contou com a parceria de Ivan Morales Jr., que o ajudou a, como diz o diretor, “esculpir o documentário”: “Filmamos uma primeira etapa e armamos um corte. Aí, voltamos a filmar em busca de outros elementos que pudessem trazer mais camadas para a história. Então, voltamos a montar até chegarmos a outro corte. E voltamos a filmar mais uma vez para registrar desdobramentos das histórias de alguns personagens”.

Realizado entre setembro de 2016 e julho de 2018, Fé e Fúria capta um Brasil em transformação, na ascensão dos evangélicos ao poder, que culminou na eleição de Jair Bolsonaro. “Mesmo sem termos filmado no período eleitoral, o filme registra episódios de intolerância, massacre de minorias, reações obscuras entre religião e poder, racismo, fascismo, Bíblia e Deus utilizados para justificar atos injustificáveis, poder armado, tráfico, milícia… É como se estivesse tudo ali, pairando sobre a sociedade brasileira”, avalia Marcos Pimentel.

Embaúba Filmes/Divulgação

Fé e Fúria: * * * *

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer de Fé e Fúria:

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