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“Mato Seco em Chamas” sonha com a revolta

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“Mato Seco em Chamas” sonha com a revolta Vitrine Filmes/Divulgação

Considerado um dos realizadores mais provocadores do cinema brasileiro contemporâneo, Adirley Queirós divide com a portuguesa Joana Pimenta a direção de Mato Seco em Chamas (2022). Como é costume nos filmes de Adirley, a ação do longa se passa em Ceilândia, cidade satélite de Brasília, e narra uma trama que mistura ficção e realidade, protagonizada pelas irmãs Chitara e Léa, líderes de uma gangue feminina.

Mato Seco em Chamas teve sua estreia mundial no 72º Festival de Berlim, no começo de 2022, e já foi exibido em 36 mostras internacionais, recebendo 27 prêmios. O filme desafia classificações e mistura gêneros como drama, policial, ficção científica e faroeste com o registro documental do cotidiano periférico e marginalizado das personagens da história. A ótima fotografia – na qual se destacam muitas sequências noturnas – ´é assinada pela codiretora Joana Pimenta, que já havia trabalhado com Adirley Queirós em Era uma Vez Brasília (2017).

Vitrine Filmes/Divulgação

Em Mato Seco em Chamas, um grupo de ex-presidiárias rouba óleo de um oleoduto, refina-o e vende o produto como combustível para os motoboys na favela Sol Nascente. Enquanto tentam manter o esquema escondido da polícia, as mulheres vão levando suas vidas – marcadas por violência, precariedade, criminalidade e exclusão. Além do brutal contexto social, a história tem como pano de fundo o clima político na Capital Federal às vésperas da eleição presidencial de Jair Bolsonaro, no final de 2018.

“Acredito que o Brasil esteja em busca de uma certa sensibilidade, já que sensibilidade é definida por classe, território e pensamento. O cinema brasileiro tem a necessidade de retratar a realidade, e se assume que a câmera estática não permite esse tipo de sensibilidade, caindo então num formalismo. Para nós, esse formalismo deu uma nova força para a realidade. Estabelecemos um código, no qual a energia pertence aos personagens”, disse Adirley sobre as escolhas estéticas do filme em entrevista à revista norte-americana Variety.

Vitrine Filmes/Divulgação

Marcada pela trajetória das personagens, a narrativa de Mato Seco em Chamas combina o documental com a ficção no arco de transformação de suas protagonistas. “Procuramos mulheres que tinham uma história que trazem uma melancolia, cujos rostos e corpos são marcados por essa história de liberdade e aprisionamento. Uma geração inteira que foi encarcerada e tem o sentimento de não saber se está no presente, passado ou futuro. Você vai para a prisão e o que para você é um dia, para o resto do mundo são anos. É quase coisa de ficção científica. O tempo é relativo”, explica a realizadora Joana.

Já o jornal francês Le Monde definiu Mato Seco em Chamas como uma combinação de Mad Max com o cinema do diretor português Pedro Costa, acrescentando: “Filmado com não-profissionais desempenhando seu próprio papel mesmo na fantasmagoria onde o projeto do filme os conduz”.

Vitrine Filmes/Divulgação

Mato Seco em Chamas: * * * *

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer de Mato Seco em Chamas:

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