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“O Farol” lança luz para além do cinema de terror

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“O Farol” lança luz para além do cinema de terror
Com o desconcertante A Bruxa (2015), o jovem diretor e roteirista norte-americano Robert Eggers despontou na linha de frente de uma tendência que alguns críticos, na falta de um rótulo mais adequado, vêm chamando de “pós-terror” – e sob o qual poderiam ser contemplados os filmes de realizadores tão distintos entre si quanto Ari Aster (Hereditário e Midsommar: O Mal Não Espera a Noite), Jordan Peele (Corra! e Nós) e a dupla brasileira Juliana Rojas e Marco Dutra (Trabalhar Cansa e As Boas Maneiras). Em seu novo filme, O Farol, Eggers aprofunda com impressionante resolução artística seu projeto de evocar o imaginário, os medos e os anseios de determinadas comunidades em uma época específica – mesmo que essa conjuração de um remoto Zeitgeist nem sempre seja totalmente decifrada pelas plateias contemporâneas. Se em A Bruxa fomos convidados a observar o cotidiano de uma família puritana da Nova Inglaterra rural da década de 1630, ameaçada por demônios internos e uma indefinível mas palpável presença maléfica, em O Farol a história se passa novamente na região natal do cineasta, mas desta vez em uma ilha isolada, nos anos 1890. No longa de estreia de Eggers, a fonte eram os relatos de feitiçaria, histeria e possessão como os das bruxas de Salem; em seu segundo título, em cartaz a partir desta quinta-feira (2/1), o diretor mergulha nos contos de pescadores e marinheiros e em narrativas náuticas como o clássico Moby Dick (1851), de Herman Melville – citado explicitamente em uma fala de O Farol. O Farol teve sua estreia mundial na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes 2019, quando levou o prêmio de Melhor Filme da FIPRESCI – Federação Internacional de Críticos de Cinema, e foi exibido em concorridas sessões durante a 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Produzido pela RT Features, do brasileiro Rodrigo Teixeira, o longa recebeu cinco indicações ao Film Independent Spirit Awards. A cerimônia de premiação, que celebra o cinema independente, será realizada no dia 8 de fevereiro. O enredo de O Farol coloca frente a frente dois homens: o zelador de um farol (Willem Dafoe) e um ajudante novato (Robert Pattinson) que chega para auxiliar nas tarefas. Apartados do mundo, tendo apenas contato um com o outro durante longos períodos, eles começam a compartilhar seus temores, segredos e paixões. O convívio forçado pelo isolamento, os mistérios a respeito do passado dos dois personagens, o enigma escondido no alto do farol – local cujo acesso é proibido ao ajudante pelo irascível veterano – e o consumo desmedido de bebida levam a um paroxismo de tensão e enfrentamento, tendo como cenário o claustrofóbico rochedo fustigado pelo mar, pelas tempestades e por perturbadoras gaivotas. O Farol conduz gradativamente o espectador para dentro da espiral de psicose dos protagonistas – como eles, começamos a duvidar se o que estamos vendo é real ou delírio. Eggers constrói um sofisticado huis clos calcado nas magníficas atuações de Pattinson e, especialmente, Dafoe – mas que se vale também de eficazes recursos técnicos […]

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