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O país das cantoras

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O país das cantoras
A Terra é redonda, o céu é azul, Temer é golpista e o Brasil é o país das cantoras. A constatação de que nossas vocalistas são fora de série não vem de hoje, obviamente, e já tem status de verdade universal. A qualidade das intérpretes da MPB é reconhecida não apenas pelo público e pela crítica, mas também pelos músicos, em geral sempre dispostos a acompanhar as belas vozes femininas. De Cesar Camargo Mariano & Elis Regina a André Mehmari & Mônica Salmaso, a música brasileira é pródiga em casamentos artísticos prolíficos de grandes instrumentistas e cantoras de escol. Dois lançamentos fonográficos recentes registram parcerias do gênero cujos resultados são trabalhos notáveis. No final de 2017, a Biscoito Fino – disparado a melhor gravadora do Brasil – colocou no mercado uma verdadeira joia: Invento +, álbum que reúne o maestro, arranjador, produtor e violoncelista Jaques Morelenbaum e a cantora e compositora Zélia Duncan em torno do repertório de Milton Nascimento. O disco é um primor de bom gosto e prova cabal da máxima “menos é mais”: as 14 faixas do CD foram gravadas apenas com voz e cello. E não precisava mais do que isso mesmo: Zélia e Jaques enchem a casa com releituras sensíveis e certeiras de canções escritas e/ou celebrizadas por Bituca e sua voz – que, segundo dizia a Pimentinha, soa como deve ser a própria voz de Deus. Os timbres graves de Zélia e do violoncelo de Jaques ajudam ambos a permanecerem no ambiente musical familiar a Milton, mesmo quando os arranjos tentam evitar os registros consagrados das músicas do homenageado. O repertório é o fino: há clássicos da dobradinha Milton e Fernando Brant, como O que Foi Feito Devera, Ponta de Areia, San Vicente, Encontros e Despedidas e Travessia‘ os hinos O que Será (Chico Buarque) e Volver a los 17 (Violeta Parra) e a linda Mistérios (Joyce Moreno / Maurício Maestro). O disco se encerra com uma versão minimalista de Beijo Partido (Toninho Horta), seguida da arrebatadora Cais (Milton / Ronaldo Bastos), em que o instrumento solista soa como uma orquestra – efeito que, de resto, Jaques Morelenbaum consegue imprimir em todo o disco. Já Brasil L.I.K.E. não tem nada de econômico do ponto de vista musical: o encontro do contrabaixista Ron Carter e da cantora Vitoria Maldonado tem participação do quarteto do jazzista norte-americano, orquestra regida pelo maestro Ruriá Duprat – responsável também pelos arranjos – e convidados especialíssimos como o trompetista Randy Brecker, o violonista Roberto Menescal, o acordeonista Toninho Ferragutti e o saxofonista Proveta. O disco de Ron e Vitoria nasceu graças ao pianista Michel Freidenson, que satisfez os desejos de ambos ao apresentar um ao outro: um dos maiores baixistas da história do jazz, o ex-integrante de formações míticas como o Miles Davis Quintet estava procurando uma artista brasileira para um novo trabalho; já a vocalista brasileira tinha selecionado um repertório de standards do jazz e da MPB para um CD. O resultado são 13 faixas em que hits do […]

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