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Paris na era do amor virtual

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Paris na era do amor virtual
No original em francês, o mais recente longa de Cédric Klapisch se chama Deux Moi, algo como Dois Eu – uma expressão que se explica mais para o final da história, em uma sessão de psicanálise. No Brasil, o filme seria lançado com o nome de (Des)Encontros – mas a distribuidora Imovision optou na última hora por destacar o lado mais solar dessa comédia dramática agridoce. Assim, você assistir na plataforma NOW nesse Dia dos Namorados a Encontros (2019), nova incursão do diretor e roteirista pelos caminhos tortuosos dos amores contemporâneos. Como em títulos anteriores de Klapisch, Encontros tem como pano de fundo uma grande cidade ocidental, quase um personagem a mais interagindo com jovens homens e mulheres que tentam viver e amar em um lugar ao mesmo tempo vibrante e atordoante. Se em Albergue Espanhol (2002) a trama era ambientada em uma Barcelona exuberante, o cenário agora é novamente Paris e sua mistura charmosa de tradição e modernidade, onde Rémy (François Civil) e Mélanie (Ana Girardot) moram em prédios vizinhos. Apesar de morarem lado a lado e eventualmente se esbarrarem em locais da vizinhança como a delicatessen árabe do bairro, os dois não se conhecem. Ambos têm 20 e tantos anos, são belos mas solteiros e levam existências solitárias, um tanto arredios ao convívio social e sem vida amorosa. A depressão ronda perigosamente Rémy e Mélanie: ele está desconfortável com a instabilidade de seu emprego e do trabalho em geral, ela não consegue superar o término de um longo relacionamento e enfrenta a pressão das responsabilidades profissionais. Ele não consegue dormir, ela dorme demais; os dois estão com a autoestima no chão. Em consonância com nosso tempo, os protagonistas buscam abrandar o baixo astral nas redes sociais – Rémy entra no Facebook, Mélanie apela para o Tinder. Mas os personagens, lembremos, são franceses, e logo acabam também procurando a ajuda de psicoterapeutas. Encontros lembra bastante Medianeras: Buenos Aires da Era do Amor Virtual (2011): da mesma forma que no filme do argentino Gustavo Taretto, a narrativa acompanha os destinos paralelos de um casal de vizinhos, unidos e separados pelas paredes dos edifícios e por episódios fortuitos e cotidianos, como um incêndio no final da rua e o sumiço de um gato – autorreferência simpática a O Gato Sumiu (1996), comédia romântica de Klapisch que também olhava com carinho para o dia a dia comum parisiense. Encontros equilibra humor e drama, passando de um registro a outro com naturalidade e explorando bem os diferentes climas – as cenas engraçadas realmente fazem rir, os momentos sérios convidam mesmo à reflexão. Como sempre nas produções de Klapisch, além da fotografia caprichada – que inclui belas sequências em câmera lenta, outra recorrência do realizador -, destaca-se também o bom gosto da trilha sonora, mesclando temas dançantes de pegada eletrônica e jazzy com curiosidades como uma versão em francês do bolero História de un Amor. Leve sem ser frívolo, denso mas não pretensioso, Encontros encanta por lembrar, em tempos de relações pautadas pela autossuficiência […]

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