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Retrato em preto e branco da vida como ela é

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Retrato em preto e branco da vida como ela é
O novo cinema sul-coreano vem se destacando no circuito dos festivais internacionais e chamando a atenção do público aficionado ocidental desde pelo menos fins da década de 1990. O Oscar de Melhor Filme recebido neste ano por Parasita (2019), de Bong Joon Ho, depois de já ter ganho a Palma de Ouro no Festival de Cannes e o Globo de Ouro de Filme Estrangeiro, extrapolou o interesse apenas nos meios cinéfilos e despertou definitivamente as plateias do mundo todo para a produção do país do sudeste asiático. Um dos realizadores mais prolíficos e talentosos sul-coreanos é Hong Sang-soo, cujo filme O Hotel às Margens do Rio (2018) será lançado nesta quinta-feira (28/5) pela Pandora Filmes na plataforma digital Belas Artes à la Carte. Exibido no 71º Festival de Locarno, onde o ótimo Ki Joo-bong levou o prêmio de melhor ator, o drama do diretor e roteirista chega ao streaming curiosamente na mesma semana em que estreia na Netflix a aguardada série Expresso do Amanhã, assinada pelo agora célebre conterrâneo sul-coreano Joon Ho. O filme apresenta dois núcleos dramáticos que eventualmente vão se tocar durante o desenvolvimento da narrativa: de um lado, um famoso poeta (Joo-bong), que passou a morar em um hotel às margens do rio Han, chama seus dois filhos adultos para um encontro, convencido de que pode estar prestes a morrer, apesar de parecer perfeitamente saudável; hospedada no mesmo estabelecimento, uma jovem (Kim Min-hee) também procura refúgio, lamentando um relacionamento fracassado e cuidando de seus ferimentos, enquanto recebe a solidariedade de uma amiga. Uma inesperada nevasca cobre de branco e frio a paisagem onde essas figuras vão dividir ressentimentos amorosos e familiares, pequenos e grandes fracassos pessoais. O humor melancólico de O Hotel às Margens do Rio ganha contrapartida visual na bela fotografia atmosférica em preto e branco, na qual as imagens quase se dissolvem em uma ambientação evocativa, onírica e pictórica. Da mesma forma que em outros filmes de Sang-soo – como Noite e Dia (2008), Hahaha (2010) e Certo Agora, Errado Antes (2015) -, é em volta da mesa de um bar, café ou restaurante que os personagens confessam anseios, medos e algumas alegrias de maneira informal e casual, em meio a goles de bebida e pratos compartilhados. Outra recorrência é o elenco formado por rostos conhecidos de produções anteriores do cineasta – com destaque para Kim Min-hee, protagonista de longas como O Dia Depois (2017) e Na Praia à Noite Sozinha (2017) – e a presença na trama de artistas, como o poeta e seu filho cineasta. Diferentemente de outros títulos de sua filmografia, porém, Sang-soo não concentra desta vez sua história nas inconstâncias da juventude ou atribulações de casais: é o maduro Yeong Hwan e sua visão de mundo poética e dura que tecem a trama da existência em O Hotel às Margens do Rio, ao mesmo tempo tão complexa e banal. Com a impressionante marca de até três longas lançados por ano, Hong Sang-soo ganhou o prêmio de melhor diretor no mais recente […]

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