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Três (ou mais) perguntas para Karim Aïnouz

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Três (ou mais) perguntas para Karim Aïnouz
Premiado cineasta, roteirista e artista visual, Karim Aïnouz vai estrear seu filme Aeroporto Central (2018) nesta sexta-feira (24/3) nas plataformas de streaming. O documentário estava previsto para entrar em cartaz nos cinemas brasileiros no dia 26 de março, mas, devido à pandemia de Covid-19, a Mar Filmes e o Canal Brasil decidiram lançar o filme direto em VOD. No longa, o cineasta acompanha um ano da vida de refugiados hospedados nas dependências de Tempelhof, antigo aeroporto berlinense desativado desde 2008 (leia o comentário do filme aqui). Aïnouz estreou como diretor de longas-metragens com Madame Satã (2002). Já dirigiu 15 filmes, como O Céu de Suely (2006), Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo (2009, codirigido com Marcelo Gomes), O Abismo Prateado (2011) e Praia do Futuro (2014). Seu último longa de ficção, A Vida Invisível (2019), estreou no Festival de Cannes na mostra Un Certain Regard, onde recebeu o Prêmio Principal, além de ter ganho mais de 50 prêmios em todo o mundo. Nesta entrevista exclusiva, Aïnouz fala sobre Aeroporto Central, suas influências cinematográficas e seu novo projeto: filho de pai argelino e mãe brasileira, o cineasta cearense está finalizando Argelino por Acaso, filme em que busca recuperar suas raízes familiares. Aeroporto Central tem dois personagens principais, o fisioterapeuta iraquiano Qutaiba e o estudante sírio Ibrahim – que inclusive virou narrador do filme. Como você chegou até eles e por que lhes deu esse destaque na narrativa? Começamos acompanhando oito personagens, entre refugiados e assistentes sociais. Fui me encantando com o Qutaiba, cuja vida no Iraque foi destroçada, perdeu o irmão mais novo por causa das bombas, vinha de um país dilacerado. Tinha perdido tudo. Mas, mesmo assim, ele ajudava as pessoas e dava atenção a elas. Já o Ibrahim me cativou pela serenidade. Era um jovem muito sólido, mesmo não tendo nem 18 anos ainda. É claro que ele tinha suas dores e traumas, tinha deixado a família inteira na Síria e não sabia quando iria voltar, mas ele falava de esperança, de ter uma vida inteira pela frente. Havia também uma vontade deles de contarem suas histórias. Demos um caderno para cada um dos oito selecionados escreverem. Muitos compreensivelmente não queriam recordar episódios trágicos. Mas o Ibrahim relatou suas histórias com muita sensibilidade. A partir dele, pude fazer algo que me interessava, que é um retrato do jovem homem árabe, diferente do estereótipo corrente. Há uma constante vilanização dos homens árabes na mídia contemporânea e uma forma bastante preconceituosa de se retratar o Islã. Justamente: de forma diferente da esmagadora maioria de produções acerca de refugiados e imigrantes, Aeroporto Central não mostra cenas de conflitos em regiões conflagradas ou imagens chocantes de desamparo, nem retrata os muçulmanos – especialmente homens – como radicais refratários ao mundo ocidental. Comente mais a respeito desses aspectos, por favor. Isso tem a ver também com minha experiência própria. Me senti discriminado quando morava na França. Todo mundo pensava que eu era argelino e me tratavam com um preconceito violento. Eu comecei a […]

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