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Um dia, um disco: “A SAGRAÇÃO DA PRIMAVERA” – IGOR STRAVINSKY, Rússia

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Um dia, um disco: “A SAGRAÇÃO DA PRIMAVERA” – IGOR STRAVINSKY, Rússia
Poucas experiências musicais me transformaram pra sempre. Ouvir o Clara Crocodilo do Arrigo Barnabé pela primeira vez, ver o Astor Piazzolla ao vivo… ou tomar contato, lá pelos 13, na Escola de Música da Ospa, com a Sagração da Primavera. Não sei se tem alguma outra música que eu tenha ouvido tanto desde então. Não chego na doença de comprar a caixa de CDs que saiu em 2013, comemorando cem anos da sua estreia com… cem diferentes gravações da Sagração. Mas agora que descobri que a caixa tá toda no Spotify corro sério perigo – mas não contem aqui em casa. Bom, o que dizer? Que a sua estreia, em Paris, foi uma das maiores polêmicas da história da música? Se hoje o pessoal se xinga por cloroquina x quarentena, na época as discussões estéticas é que chegavam no tabefe. Sobre isso tem um belo filme francês, Coco e Igor, que conta o amor secreto do Stravinsky com, sim, a Coco Chanel – e reencena espetacularmente essa noite de estreia. O fato é que de 1913 até hoje – passando pelo meu 1984 -, ninguém fica incólume frente a essa peça que redefiniu a música a partir dela. (Na estreia, em Paris, pelos Ballets Russes, ainda tinha a provocação adicional da coreografia do Nijinsky ajudando a encenar esse “rito antigo da Rússia ancestral” inventado pelo Stravinsky.) Mas o que temos aqui, além de polirritmias e uma maestria absoluta numa arte rara que é o politonalismo – uns tão num tom, outros tão noutro, e dá esse barato louco que eu também adoro usar? Melodias. Toda a obra do Stravinsky, xiru russo veio, não economiza melodia. E não tem looooongos desenvolvimentos refletindo as profundezas da alma humana e dando aquele soninho gostoso. Aqui é pé na porta e chute na cara. Aqui e em toda a obra inicial e final dele – no meio teve um período neoclássico onde tem pouca coisa que eu gosto. Não curtiu esse pedaço? Relaxa que em 45 segundos já virou outra coisa. É um parquinho de diversões onde toda criança brinca e se diverte. Uma dica? Ouça ALTO. Se puder, de fone. (A introdução, com aquele fagote desesperado por tocar numa região em que até então ninguém achava possível de tão agudo, começa baixinho: por isso, cuidado pra não estourar os miolos depois.) Como escolher uma versão entre tantas? Fui no inglês Leopold Stokowski, um craque, que em 1922 regeu pela primeira vez a Sagração deste lado do Atlântico, com a mesma Orquestra da Filadélfia à qual ele voltou nos anos 1960 para uma série de gravações, incluindo as desse disco. Que, além da Sagração, tem outras maravilhas como os arranjos de Bach para orquestra sinfônica que o próprio Stravinsky fez pra ganhar uns trocados quando foi tentar a vida nos Estados Unidos. Escute o disco com A Sagração da Primavera aqui.

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