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Um dia, um disco: “EDERLEZI” (1998) – GORAN BREGOVIC, Bósnia

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Um dia, um disco: “EDERLEZI” (1998) – GORAN BREGOVIC, Bósnia
Nêga, vamo pra Bósnia? Pra mim, na música, os anos 1990 tiveram cinco grandes alumbramentos: o manguebit, Nirvana, Radiohead, Björk e a música dos Bálcãs, Goran Bregovic à frente. A experiência de ver sua gigantesca e multiétnica Orquestra de Casamentos e Funerais ao vivo é irreproduzível em disco. Vi pela primeira vez – chic no úrtimo! – em Paris, com 40 músicos no palco, romenos, búlgaros, russos, bósnios e húngaros. Pensei: nunca ia conseguir ver isso em Porto Alegre. Dois anos depois essa mesma formação tava no Teatro do Sesi e, anos mais tarde, a versão reduzida, “só” com 18, também veio a Porto Alegre – viva o Luciano Alabarse e o Porto Alegre Em Cena! Tu não passa por um show desses impunemente, principalmente se já era fã dos filmes do Emir Kusturica, amigo de adolescência do Bregovic, e que o levou pras trilhas de cinema depois de uma carreira estabelecida… no rock progressivo iugoslavo dos anos 1970, com sua banda Bijelo Dugme – que, cá entre nós, não tem NADA de especial. Um dia o Kusturica, que tocava numa banda punk e fazia filmes, resolveu fazer um sobre os ciganos da sua terra (Tempo de Ciganos), maravilhoso como quase tudo que ele faz. E daí convenceu o amigo progressivo a mergulhar nesse mundo e compor/adaptar a trilha. Foi a melhor coisa que podia ter acontecido pro Bregovic. Aos 39 anos – ele tá com 70, com carinha de 55 – o destino bateu à sua porta. Fizeram três filmes juntos – este, a obra-prima Underground e o também ótimo Arizona Dream, com Johnny Depp. Daí se estranharam e o Kusturica se juntou à The No Smoking Orchestra e passou a fazer suas próprias – e QUASE tão boas – trilhas e turnês. Goran seguiu escrevendo música pra cinema, e tem outra maravilha nos anos 1990, nada balcânica: A Rainha Margot, do Patrice Chéreau, com a Isabelle Adjani. Escolhi essa coletânea de 1998 porque tem tudo o que o cara fez de melhor na sua melhor década, e com uns parceiros que vou te contar: em que mesmo disco tu ia achar Ofra Haza, Cesária Évora, Scott Walker, Johnny Depp e Iggy Pop? Pois então. Tão aí quase todos os hits que ele toca até hoje. E é interessante pensar nisso: quem mais faz turnês tocando suas trilhas de filmes? Só lembro do Yann Tiersen – não me venham com os espetáculos de cafonice do Hans Zimmer que aquilo é mais bagaceira que show do finado Wando. Uma única ressalva: quanto mais tu ouve música balcânica, mais tu descobre melodias que tu já ouviu “compostas” pelo Bregovic, safado. Mas por mim, tudo bem. Folclore balcânico é como passarinho: é de quem pegar primeiro. Escute o disco Ederlezi aqui.

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