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Um dia, um disco: “FIRST MEETING” (1980) – MIROSLAV VITOUS, República Tcheca

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Um dia, um disco: “FIRST MEETING” (1980) – MIROSLAV VITOUS, República Tcheca
Miroslav Vitous, República Tcheca, baixo acústico, composições e arranjos. E dois dos meus músicos europeus preferidos – o inglês John Surman no sax soprano e clarone, o norueguês Jon Christensen na bateria – com o pianista pós-Herbie Hancock que mais me impressionou na vida: Kenny Kirkland, que depois ficou famoso na banda do Sting e morreu jovem. Isso tudo num disco da ECM, produzido pelo Manfred Eicher e gravado e mixado pelo Jan Erik Kongshaug no Talent Studio de Oslo. No começo dos anos 1980 isso já era mais do que suficiente pra eu comprar um elepê com o dinheiro da mesada. Ainda mais com essa capa. Peguei o ônibus de volta pra Gravataí, botei o disco pra tocar e NUNCA MAIS voltei daquele lugar. Porque é um mundo que tem ali. Beatiful Place to, a segunda música, em sua gélida beleza e nenhuma única nota improvisada (num disco de jazz) botou na minha cabeça uma cor e um timbre que eu busco até hoje – ok, é “só” um unissono em oitavas de baixo com arco e sax soprano, ambos sem NENHUM vibrato, com um piano abandonado largando os acordes, mas vai fazer isso soar com essa nórdica desolação, vai… Eu poderia morar nessa música. Mas ia ficar com saudade da bateria inconfundível do Jon Christensen, que me aproximou, em Porto Alegre, do meu amigo da vida toda Jon Guentensen… Digo, Guenther Andreas. Tudo nesse disco é impressionante, irretocável, não tem 10 segundos de desinteressância nele. O Miroslav é um virtuose absoluto, mas peculiar: nunca sai fritando pra impressionar – êêê coisa chata baixista de competição… -, mas seus solos com arco, com uma afinação que eu raramente vi em contrabaixo de jazz, são da categoria do músico gênio: não é o que te atropela em virtuosismo (vale pra composição também), mas sim o que tu só te dá conta de quão complexo e difícil é o que ele tá fazendo quando tu consegue parar de te encantar com a beleza e vai analisar tecnicamente. Miroslav tá com 72 anos, tem formação clássica em contrabaixo no Conservatório de Praga. Quando veio a Primavera, em 1968, ele já tinha ganho uma bolsa em Viena pra ir estudar na Berklee, nos Estados Unidos. Miles Davis descobriu, depois teve o Weather Report e aí, ufa, seus maravilhosos discos solo. Escute o disco First Meeting aqui.

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