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Um dia, um disco: “LET LOVE IN” (1994) – NICK CAVE AND THE BAD SEEDS, Austrália

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Um dia, um disco: “LET LOVE IN” (1994) – NICK CAVE AND THE BAD SEEDS, Austrália
Vamos pra Austrália, ainda que nos Bad Seeds tenha gente de tudo que é canto – com destaque pro guitarrista alemão Blixa Bargeld, que conheci na sua outra banda, a maravilhosamente demencial Einstürzende Neubauten, a inventora do som industrial alemão. O cabeça, Nick Cave, me explica meu amigo australiano Ian Alexander, era figura central na cena de Melbourne no fim dos 1970. Cena que era, basicamente, formada por adoradores de David Bowie, e reunia todos os integrantes das primeiras bandas de Cave, antes de irem morar na cidade da (sua) Rainha. Tem Bowie ali, claro. Mas eu também ouço uma mistura de Kurt Weill e Tom Waits com UK punk. Não por acaso, a mitologia da Alemanha da República de Weimar e do oeste estadunidense – o velho e o beat – pairam forte nas letras do cara. Deus e o Diabo em terras de sol e gelo. Enfim. Todos os discos de Nick Cave & The Bad Seeds são bons, ainda que bem diferentes entre si. E ainda vou parar pra ouvir as mais de 10 trilhas que Nick solo já escreveu pro cinema. Mas tem três álbuns lançados na sequência nos anos 1990 que fazem pular especialmente meu macaco interior: este (1994), Murder Ballads (1996) e The Boatman’s Call (1997) – que eu quase escolhi por Into My Arms, a balada mais linda do mundo, e People Ain’t No Good, na qual acredito cada dia mais. Mas já temos depressão suficiente. É melhor ir de Let Love In. O bom desse é que tem tudo o que ele e essa banda maravilhosa fazem de melhor, e no mesmo álbum: baladaços de cortar os pulsos, com aquelas instrumentações riquíssimas – theremin, órgão, carrilhão e tímpanos na mesma música já me ganham só de ler na ficha. E também aquelas pedradas punks onde a afinação do cantor vai pro espaço e tu fica tão impressionado com o intérprete que balança a bunda na pia lavando louça e gritando: “Afinação é para FRACOOOOOS!” (Com intérpretes como Sid Vicious, Shane McGowan, Nick Cave e Wander Wildner, quem precisa de cantores?!?) Como cereja do bolo, o arranjo de cordas do Bad Seed multi-instrumentista Mick Harvey pra segunda versão de Do You Love Me, que fecha o disco, vai numa eterna espiral da beleza à insanidade que resulta numa pequena obra-prima pra quem presta atenção nisso. Nota mental: preciso ouvir os discos solo do Mick Harvey. Escute o disco Let Love In aqui.

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