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Um dia, um disco: “MERCEDES SOSA EN ARGENTINA” (1982)

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Um dia, um disco: “MERCEDES SOSA EN ARGENTINA” (1982)
Argentina. Fiquei na dúvida entre tanta gente, mas resolvi apostar na porta de entrada de muitos brasileiros não só à música argentina, como à latino-americana em geral: Mercedes Sosa. Também foi difícil escolher um em 50 discos. Algum dos primeiros, tipo Canciones con Fundamento ou o duplo de despedida, o magistral Cantora? Resolvi ir num ao vivo, todo especial, para mim e para ela. Para mim porque foi esse show que esteve (com variações) algumas vezes em Porto Alegre nos anos 1980, com essa banda que talvez tenha sido a melhor dela: Omar Espinoza (ou Nicolás Brizuela) no violão, José Luís Castañera de Dios no baixo e violão e o fabuloso Domingo Cura na percussão. E para ela porque aqui, nessa gravação, La Negra voltava do exílio, depois de ser presa e ter de fugir mundo afora, e o público argentino a esperava nessa calentura que se ouve aí. Se bem que nesse show, nesse momento de redemocratização destes suis, até o público porto-alegrense ficava quentíssimo. Pudera: o repertório é impecável, e tem quase tudo que você precisa conhecer de um(a) dxs maiores cantorxs e intérpretes do planeta, em qualquer tempo. E com participações especiais dignas do ecletismo que ela crescentemente cultivou – Tarragó Ros, Ariel Ramírez, León Gieco e Charly García: um paisano de cada povo. Voltar a esse disco foi chorar na cozinha em profunda catarse: tudo ali voltou a ser atual. O Sueño con Serpientes de Silvio Rodríguez: “La mato y aparece una mayor con mucho más infierno en digestión”. A melhor versão ever de Gracias a la Vida, da chilena Violeta Parra, que te faz voltar a prestar atenção numa canção quase gasta pelo uso. Tantas veces me mataron, tantas veces me morí. A mí própio entierro fui, sola y llorando: outra compositora mulher, a argentina María Elena Walsh. Uma Alfonsina y el Mar que te leva junto quando Alfonsina entra mar adentro, com o autor Ariel Ramírez no piano. E MUITO mais. Um disco pra se assombrar como essa mulher estava inteira em cada frase, em cada palavra. Tem pouca gente assim. Elis, Sinatra, Billie Holiday. Pouca gente. Nesse momento, aos 47 anos da idade, cantando profissionalmente desde os 24, a tucumana Mercedes vinha de fazer shows pelo mundo, e com tremenda fome de bola. Nos anos seguintes seguiria sempre na estrada, com crescente popularidade, em todas as Américas e Europa. Cantou até morrer. Escute o disco Mercedes Sosa en Argentina aqui.

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