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Um dia, um disco: “ONE TRUTH” (1999) – OMAR FARUK TEKBILEK, Turquia

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Um dia, um disco: “ONE TRUTH” (1999) – OMAR FARUK TEKBILEK, Turquia
Tá. Tem uns tecladinho que deixa a coisa meio melada vezenquando. Mas, porra, o Brasil tem Bolsonaro e tu vai reclamar de tecladinho?!? Turquia. Omar Faruk Tekbilek. O cara canta, compõe e toca: nos sopros, kaval, ney (flautas turcas) e zurna (o oboé deles). Nas cordas: saz, oud. Na percussão, darbuka, cembalos (aquelas castanholas de metal), bendir, bongôs e djembe. Tudo num nível virtuose. Ah, sim, e teclado. Tem outros músicos no disco: violino, guitarra, cello, piano de brinquedo. E o violão flamenco da primeira faixa (Adán del Monte), mostrando o quanto Oriente e Ocidente se misturaram na península ibérica – e isso que o Império Otomano teve perto, mas não chegou lá. A música do Tekbilek não é genericamente turca: é mais que isso. É sufi. A primeira vez que, em Istambul, visitei uma loja de discos – aquela coisa que existia antigamente, lembram? -, me caiu o cu da bunda: imensa, ela SÓ TINHA MÚSICA TURCA, separada por uns 15 estilos e suas subdivisões – fiquei horas lá, comprei uma porrada de CDs. Um deles é a música sufi, que também tem subdivisões como “blues sufi” e “jazz sufi”. O sufismo é o lado mais profundamente místico do Islã. Manja aqueles caras que ficam dançando em círculo pra ficar doidão? Giro sufi. Portanto, a música do Tekbilek é pra Deus. Mas não só pra Alah. Essa “verdade única” do título, segundo ele, é que a música leva a Deus, seja lá qual for o seu. Pode ser. Eu fico místico é com os compassos em 10/8 ou com a riqueza de uma música que praticamente não tem harmonia, não tem contraponto, e mesmo assim – ou por isso – tem um nível de sofisticação impressionante. Como boa parte da música “tradicional” feita entre os Bálcãs e a Índia, esse mundo tão, mas tão imensamente rico, onde a história meio que parou, e o que muda é a geografia. Culturas e civilizações que a gente, colônia da Europa – e, nos últimos 80 anos, dos Istaduzinido -, conhece tão pouco. Resta dizer que o Omar nasceu em 1951, na Anatólia, Turquia, filho de uma egípcia com um turco, estudou sufismo desde criança e começou sua carreira de músico aos 15 anos. Conheceu uma americana numa turnê, casou com ela e ficou comendo mosca nos Estados Unidos de 1971 até 1988 quando um produtor precisava de um músico turco pra trilha do filme Suleyman, the Magnificent, e daí a coisa foi. Hoje é o músico turco mais conhecido do mundo. Escute o disco One Truth aqui.

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