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Um dia, um disco: “RECITAL ESPECIAL” (1983) – LEO MASLÍAH, Uruguai

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Um dia, um disco: “RECITAL ESPECIAL” (1983) – LEO MASLÍAH, Uruguai
Pra mim, os cinco maiores cancionistas vivos sobre a terra são seis: Bob Dylan, Tom Waits, Paul McCartney, Chico, Caetano… e Leo Maslíah. Esse é o nível da discussão. E como escolher UM disco desse uruguaio nascido em 1954 – o caçula da lista?! São, creiam, 60, de 1980 pra cá – eu só tenho 30. Mais cinco filmes, uma infinidade de peças de teatro e, creiam, 46 livros – li uma dúzia só. De contos, poesia, romance. Ah, sim, e pelo menos uma gigantesca ópera que nunca gravou e alguns concertos, inclusive de piano – ele, aliás, toca num nível de concertista. Leo tem um lado de entrar. Se tu for pela porta errada, não rola – que nem Zappa, sabe? Por isso escolhi esse disco: é o terceiro, o vinil é incrível, com essa história em quadrinhos de várias páginas, e foi também o primeiro que eu ouvi, emprestado pelo amigo da vida toda Marcelo Delacroix. Aí tem tudo que Maslíah tem de melhor: o cantor absolutamente brechtiniano: o que importa é a canção – e não é pouco Kurt Weill que ecoa aqui e ali. O pianista virtuoso onde tudo é minuciosamente escrito, nada improvisado ou ao acaso. O grande compositor, minimalista, politonal às vezes, sempre a serviço do texto – a favor ou contra. E o letrista gigantesco, em forma e conteúdo. A vida dos pobres artistas pobres do Uruguay dos anos 1980, e do mundo todo sempre. Todos com outras profissões de merda, sonhos que murcham em paradas de ônibus, a depressão a ser evitada a qualquer preço, o bilhete sorteado da loteria, o fiscal que recolhe a passagem no trem, o hospital psiquiátrico concebido em sentido contrário – para o “retardo mental” necessário numa sociedade dessas. A violência latente dos bons jovens que explode numa despedida de solteiro, o cotidiano dos operários da fábrica que não sabem o que fabricam – como Leo, que enquanto estudava música trabalhava de chaveiro ou operário. E aí um lirismo raro explode. Na tentação em que caem os Três Reis Magos, que no Uruguay são quem entregam os presentes. Ou na criança atrás de ti no ônibus que te diz: “imagina camelos”. Tudo isso com uma instrumentação tão mínima quanto precisa: um oboé ali, eventuais cordas, um bombardino acolá, pontuando piano e violões. Num panorama que vai da rancheira à música contemporânea, sem rede. Te convenci? Vem! Escute o disco Recital Especial aqui.

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