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Um dia, um disco: “TE DEUM” (1993) – ARVO PÄRT, Estônia

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Um dia, um disco: “TE DEUM” (1993) – ARVO PÄRT, Estônia
A música do estoniano Arvo Pärt te leva pra fora do tempo, num lugar que não existe. Se Deus é isso, acho que não tem no Ocidente nada mais perto dele do que o que sai da cabeça desse senhor de 84 anos que levou metade da vida procurando traduzir em música o que tinha na alma. Nascido em Paide, interior da Estônia, em 1935, aos nove viu seu país invadido pelos russos e anexado à União Soviética por quase 50 anos. Nunca teve pressa: começou a estudar música a sério só em 1954, quando mudou-se pra capital, Tallinn, e só formou-se aos 28 anos, o que é tarde pra música erudita. Trabalhou como operador numa rádio estatal, compôs música neoclássica, e depois entrou no serialismo – que era terrivelmente malvisto no mundo soviético, coisa de burguesia decadente. Nos anos 1960, crise: para de compor. Não era aquilo. Dá um salto pra trás de meio milênio. Sai da mais canônica vanguarda da metade do século 20 pra estudar canto gregoriano e os compositores da Renascença. Escreve umas obras de transição e daí, na metade dos anos 1970, acha o seu som. Tem um pouco de minimalismo? Tem. Mas não do jeito que a gente conhecia. É místico? É, mas nunca é carola. Ele batizou o estilo encontrado de “tintinabulum”, música que tintila como a de um sino: acordes perfeitos maiores, em plena música erudita do final do século 20. Igualmente não agradou a censura soviética e daí jogou a toalha. Nos anos 1980, se mandou pra Viena, com a família toda, e dali Berlim e uns tempos em Essex, na Inglaterra. Virou cidadão europeu e sua música explodiu. Hoje vive em Tallinn, de novo, e é lá que gente como o Bob Wilson vai lhe propor parcerias. De 2011 a 2018, foi nada menos que o compositor (erudito) vivo mais tocado no mundo. Por que esse disco, entre tantos? Porque o Te Deum que abre o álbum é uma das coisas mais lindas do mundo. E porque foi só graças a essa gravadora, a nunca por demais citada ECM – que passou a incluir música erudita POR CAUSA do Arvo Pärt -, que o mundo (e eu) conhecemos o cara, a partir de 1984, quando lançaram o primeiro disco com sua obra, Tabula Rasa, com o Gidon Kremer e o Keith Jarrett puxando uma legião de intérpretes. Aliás, podia ser esse disco, ou o mais recente, com suas sinfonias que passam por todos os estilos que ele abraçou. Pensando bem: ouve eles também. Que que te custa? Escute o disco Te Deum aqui.

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