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Um dia, um disco

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Um dia, um disco
Um pra cada dia, seis dias por semana: uma série de álbuns que eu acho que todo mundo poderia ser muito feliz de escutar neste isolamento. Ah, sim: um de cada país e com mais uma auto-regrinha que é segredo e duvido que alguém descubra qual é. ARCO IRIS (2011) – AMINA ALAOUI, Marrocos O primeiro é dessa cantora marroquina maravilhosa. Começo dizendo que o fado nasceu no Brasil, na mesma época da modinha e do lundu, foi pra Portugal junto com seus amiguinhos aí citados, mas ficou por lá, florescendo, enquanto morreu aqui – ao contrário do lundu, que nunca sumiu, e da modinha, que voltou quando a corte veio pro Rio em 1808, fugindo do Napoleão. Já o tango nasceu na Andaluzia e dali veio pro Brasil e pra Argentina, onde se aclimatou com cada país e criou seu sotaque. Andaluzia, pátria do flamenco. Por que toda essa digressão? Um, porque eu gosto. Dois, porque a Amina Alaoui tem dedicado sua já longa carreira a fazer isso que eu fiz aqui: conexões. Ela é marroquina, conheci sua música quando fomos pro Marrocos, Áurea e eu, ano passado. Recomendo a todo mundo estar uma vez na vida no estreito de Gibraltar, seja de que lado for. Tu olhar do alto da pedra espanhola/inglesa e ver o Marrocos do outro lado é uma aula sobre mistura de culturas maior do que qualquer coisa aprendida em livro. O mundo árabe do norte da África e a cultura ibérica europeia ao alcance da vista uma da outra. E o trabalho da Amina é isso: flamenco, fado, música árabe, música clássica andaluza. Tudo, no fundo, se não é a mesma coisa, não existiriam uns sem os outros. Talvez só o leste europeu tenha uma mistura tão indissolúvel de mundos quanto essa fronteira aquática mediterrânea. Onde começa uma coisa e termina a outra? Onde a terra acaba, diria o poeta. Pra completar, a Amina, que nasceu em Fez, numa família da aristocracia marroquina, estudou filologia e linguística espanhola e árabe na Universidade de Granada. Paralelo, cantava. Não podia ter dado em outra coisa, fala a verdade… Ela tem poucos discos, eu ouvi todos, e esse é meu preferido. Acho que porque tem mais uma mistura aí: da estética da Amina – que canta em espanhol, persa, árabe e até português: Fado Menor, que é uma perfeita milonga, aumentando a suruba – com a estética inconfundível da minha gravadora preferida no planeta: a ECM. Escute o disco Arco Iris, de Amina Alaoui, aqui.

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