Entra em cartaz nesta quinta-feira (30/9) nos cinemas brasileiros um dos filmes mais ansiosamente aguardados dos últimos tempos: 007 – Sem Tempo para Morrer (2021). O 25º título da franquia de sucesso marca a despedida do ator Daniel Craig de James Bond, personagem que encarnou em cinco produções da série. Prevista para chegar às telas em novembro de 2019, a produção teve sua estreia adiada diversas vezes por conta da pandemia.
Em Sem Tempo para Morrer, o agente secreto deixou o serviço de inteligência britânico MI6 e está levando de uma vida tranquila na Jamaica. Mas a aposentadoria de Bond não dura muito: seu velho parceiro Felix Leiter (Jeffrey Wright), da CIA, aparece pedindo ajuda para resgatar um cientista russo sequestrado (David Dencik).
A princípio relutante, o espião inglês acaba aceitando ajudar o amigo americano – mas os perigos que Bond acaba deparando vão muito além do que supunha, colocando o herói na trilha do misterioso Lyutsifer Safin (Rami Malek), vilão que se apossou de uma nova arma tecnológica extremamente perigosa. A missão adquire tons pessoais para Bond quando ele descobre o envolvimento de uma antiga paixão, a bela francesa Madeleine Swann (Léa Seydoux), com quem viveu um ardente romance anos atrás.
Sem Tempo para Morrer começa muito bem, com uma sequência de perseguições, tiroteios e explosões absolutamente vertiginosa e eletrizante, filmada no magnífico centro histórico de Matera, cidade incrustada sobre rochedos no sul da Itália onde foram rodados filmes como O Evangelho Segundo São Mateus (1964), de Pier Paolo Pasolini, e A Paixão de Cristo (2004), de Mel Gibson. O tom promissor do início mantém-se em seguida nas cenas eletrizantes ambientadas em Havana, capital cubana, quando Bond dividirá a ação com duas agentes: a desajeitada parceira Paloma (Ana de Armas) e a determinada rival Nomi (Lashana Lynch) – as duas personagens femininas são as melhores novidades do filme.
A partir daí, porém, a história criada por Neal Purvis e Robert Wade – que escreveram os roteiros dos últimos sete títulos da série – em parceria com o diretor Cary Joji Fukunaga revisita sem muita inspiração os lugares-comuns dos filmes de 007: planos megalômanos de dominação do mundo, antagonistas excêntricos, correrias a bordo dos mais diversos veículos em cenários internacionais exuberantes, recepções com smokings e vestidos sofisticados, aparelhos de tecnologia que ainda nem existe, merchandising de telefones celulares, bebidas e carros. É certo que não se deve esperar nada de muito diferente disso em um filme de James Bond – afinal, são justamente ingredientes como esses que fazem a receita há décadas exitosa da marca 007. Mas a trama decididamente poderia ser menos esquemática do que a apresentada da metade para o fim de Sem Tempo para Morrer.
Um dos problemas é recorrente nos filmes da s´érie: a falta de consistência do vilão. Se Christoph Waltz está ótimo em sua curta aparição como o gênio do mal Blofeld, Rami Malek não vai muito além do registro caricato na pele do perturbado bandido principal, lembrando a antiquada galeria de inimigos de Bond dos tempos de Sean Connery – e ainda por cima ridiculamente chamado Lyutsifer. As referências insinuadas por nomes de personagens indicam também a ênfase de Sem Tempo para Morrer no romantismo: a ex-amante do protagonista Madeleine Swann remete a Em Busca do Tempo Perdido, monumental romance de Marcel Proust centrado na evocação de sentimentos e experiências do passado.
De fato, o relacionamento entre Bond e Madeleine é o que de melhor Sem Tempo para Morrer oferece dramaticamente: Daniel Craig e Léa Seydoux formam mesmo um belo e apaixonado casal em cena. E, mesmo que a trama não contribua muito para isso, o último ato proporciona ao galã um adeus digno para o papel que o consagrou no cinema. Ainda assim, é muito pouco para quase três horas de filme.
007 – Sem Tempo para Morrer: * * *
COTAÇÕES
* * * * * ótimo * * * * muito bom * * * bom * * regular * ruim
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