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“A Sala dos Professores” é um campo de batalha

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“A Sala dos Professores” é um campo de batalha Sony Pictures/Divulgação
Indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional, o impressionante drama alemão A Sala dos Professores (2023) entra em cartaz nesta quinta-feira (29/2). Vencedor de dois prêmios no Festival de Berlim, o filme dirigido por Ilker Çatak acompanha as angustiantes consequências de uma série de mal entendidos e conflitos dentro do ambiente de uma escola a partir das atitudes de uma professora. Na trama, Carla Nowak (Leonie Benesch) é uma dedicada professora de educação física e matemática integrada capaz de catalisar a atenção de quase toda a turma sob sua responsabilidade no colégio em que começou a lecionar recentemente. Quando um de seus alunos torna-se suspeito da série de furtos que vem ocorrendo dentro da escola, gerando uma desastrada ação da direção da escola, a protagonista decide investigar por conta própria o caso. Depois que a própria maestra torna-se vítima de um furto, a situação se complica ainda mais, envolvendo estudantes, professores e pais. Carla tenta mediar a situação, mas é invariavelmente confrontada com as regras rígidas da estrutura escolar, disputas de poder dentro e fora da sala de aula e questões como externas como preconceito social e racial. No entanto, quanto mais tenta desesperadamente fazer as coisas certas, mais vulnerável fica a situação da professora. Sony Pictures/Divulgação Filho de imigrantes turcos, o diretor e roteirista alemão Ilker Çatak mudou-se para Istambul aos 12 anos, onde completou o ensino médio na escola alemã de lá na mesma turma de Johannes Duncker – com quem escreveu o roteiro de A Sala dos Professores. As experiências dessa época ecoam no longa, assim como referências ao passado e ao presente da Alemanha. Rodado quase todo dentro dos espaços internos de uma escola, o filme joga o espectador desde o início em um ambiente cuja aparente normalidade é ameaçada por uma tensão constante e difusa, sublinhada pela trilha sonora crispada e pela recorte quadrado da janela da projeção – que reduz o campo de visão na tela, potencializando a sensação de claustrofobia. Outro destaque é o ótimo elenco, tanto o adulto quanto o infantil – especialmente o estreante Leonard Stettnisch, capaz de externar a convulsão de sentimentos contraditórios de seu personagem como ressentimento, raiva, fragilidade e inquietação apenas com o olhar. Já Leonie Benesch, atriz de filmes como A Fita Branca (2009) e conhecida por séries televisivas alemãs do tipo Berlin Babylon, brilha na pele da anti-heroína cuja integridade, retidão e resiliência não dão conta de resolver os dilemas éticos que a desafiam um após o outro nessa espécie de calvário. Sony Pictures/Divulgação Xenofobia, incomunicabilidade geracional, insensibilidade institucional e arrogância social são alguns dos diversos elementos que atravessam a narrativa de A Sala dos Professores, apresentando um complexo ecossistema em que a linha supostamente clara que divide o certo do errado torna-se indiscernível com uma facilidade desestabilizadora. Esse terreno movediço de valores e conceitos instáveis e por vezes contraditórios no qual os personagens de A Sala dos Professores se movem remete a outros dois ótimos títulos atualmente em cartaz nos cinemas: Anatomia de uma Queda (2023), […]

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