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Hitchcock brinca de fazer suspense no trem

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Hitchcock brinca de fazer suspense no trem Petra Belas Artes à la Carte/Divulgação

Um dos muitos clássicos da fase inglesa de Alfred Hitchcock, A Dama Oculta (1938) acaba de entrar no catálogo da plataforma de streaming Petra Belas Artes à la Carte. O longa é uma deliciosa comédia com toques de suspense, espionagem, policial e romance – uma mistura inusitada de gêneros que o grande cineasta equilibra com leveza e maestria.

A trama de A Dama Oculta é ambientada em Bandrika, fictício país montanhoso do centro da Europa, onde os passageiros de um trem são obrigados a passar todos uma noite em um pousada devido a uma avalanche. Quando o trem parte, apenas uma pessoa talvez não tenha embarcado: uma governanta inglesa de meia-idade chamada Srta. Froy (May Whitty).

A jovem Iris Henderson (Margaret Lockwood), uma playgirl que estava de férias com amigas antes de voltar à Inglaterra para se casar, tem certeza de que a Srta. Froy estava no trem porque ambas estavam no mesmo compartimento e tomaram chá juntas no vagão-restaurante – mas todas as pessoas que podem corroborar sua história parecem não querer fazê-lo. Como foi atingida na cabeça por um vaso pouco antes de embarcar no trem, as suspeitas de Iris a respeito do possível sumiço da idosa são facilmente descartados como uma possível concussão.

Petra Belas Artes à la Carte/Divulgação

A garota aceita a contragosto a ajuda do inglês Gilbert (Michael Redgrave), um musicólogo com quem teve um encontro desagradável na pousada na noite anterior. Enquanto seguem em sua busca ao longo do trem, Iris e Gilbert começam a desconfiar que há uma conspiração entre vários dos passageiros para esconder a Srta. Froy. A questão é: qual seria a razão para sequestrar um simpática e aparentemente inocente governanta?

Em entrevista ao crítico de cinema e diretor norte-americano Peter Bogdanovich, Hitchcock revelou que o filme foi inspirado na lenda de uma inglesa que foi com a filha ao Palace Hotel de Paris na década de 1880, na época da Grande Exposição: “A mulher adoeceu e eles enviaram a garota através de Paris para pegar um remédio em um veículo puxado a cavalo, de modo que demorou cerca de quatro horas. Quando ela voltou, perguntou: ‘Como está minha mãe?’ ‘Que mãe?’ “Minha mãe. Ela está aqui, está no quarto dela. Quarto 22′. Eles vão lá em cima. Quarto diferente, papel de parede diferente, tudo. E a recompensa de toda a história é, segundo a lenda, que a mulher tivera peste bubônica e eles não ousaram deixar ninguém saber que ela morreu, caso contrário toda Paris teria se esvaziado”. A lenda urbana é conhecida como “Quarto de Hotel Desaparecido”.

Outro fã do mestre do suspense, o cineasta francês François Truffaut afirmou que A Dama Oculta era o seu filme favorito de Hitchcock e o que melhor representava o trabalho do diretor. Anthony Page dirigiu um remake da história em 1979, estrelado por Elliott Gould, Cybill Shepherd e Angela Lansbury.

O enredo de A Dama Oculta contém referências claras à situação política às vésperas da II Guerra Mundial: os personagens britânicos, por exemplo, inicialmente tentando ao máximo se manter fora do conflito, acabam trabalhando juntos para lutar contra os vilões estrangeiros, enquanto o advogado que deseja negociar com os agressores agitando uma bandeira branca descobre da pior maneira possível que os tempos não são de paz.

E como sempre, Alfred Hitchcock faz sua tradicional aparição perto do final do filme, na Victoria Station, em Londres, vestindo um casaco preto e fumando um cigarro. Tão divertido quanto inverossímil, A Dama Oculta é um elegante exercício de humor witty britânico.

Petra Belas Artes à la Carte/Divulgação

A Dama Oculta: * * * *  

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer de A Dama Oculta:

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