Eleito o Melhor Documentário Brasileiro do festival É Tudo Verdade deste ano, o longa Incompatível com a Vida (2023) aborda um assunto ainda tabu na sociedade brasileira: o aborto. O filme nasceu da experiência da diretora Eliza Capai, que começou a filmar sua gravidez durante a pandemia – e tudo parecia correr bem até que veio o diagnóstico: seu bebê tinha uma malformação que o tornava incompatível com a vida, e um aborto seria a melhor solução. A partir do registro de sua gravidez frustrada, a realizadora conversa com outras mulheres que tiveram vivências parecidas à sua, registrando um tocante coral de depoimentos sobre temas como vida, morte, luto e políticas públicas.
Receber o diagnóstico de que seu bebê não sobreviveria revirou a vida da realizadora, que, além de filmar todo o seu processo de interrupção de gravidez, virando a câmera para si nos momentos mais difíceis de sua vida, também conversou com mulheres que passaram por situações semelhantes. O título “incompatível com a vida” é um termo médico para o diagnóstico pré-natal de malformação congênita de um bebê que não sobreviverá fora do útero – caso de Eliza Capai e das mulheres entrevistadas no filme.
A complicada jornada de Eliza é acompanhada de perto na tentativa de poder realizar uma interrupção de gravidez de forma legal em outro país. Ela consegue fazer o procedimento pelo sistema público de saúde de Portugal, com apoio de uma junta médica e da legislação no país. Já no Brasil, realizar uma interrupção de gravidez de um feto incompatível com a vida é inconstitucional.
“Ao passar por essa situação, me dei conta de uma crueldade ainda maior da lei que criminaliza o aborto no Brasil. Que mesmo mulheres que desejavam seus filhos, ao se verem gestando um bebê que infalivelmente morreria nos primeiros minutos ou horas de vida extra uterina, é obrigada a levar a gestação a cabo. Para mim, seria uma forma de tortura, tanto para mim, quanto para o meu filho, levar a gestação a cabo”, conta Eliza.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o aborto inseguro se caracteriza como um procedimento para interromper uma gravidez indesejada por meninas e mulheres realizado em um ambiente sem condições necessárias e um padrão médico mínimo. Segundo a OMS, cerca de 25 milhões de interrupções inseguras são feitas por ano no mundo, causando a morte de 39 mil mulheres e meninas.
No Brasil, o aborto está entre as cinco principais causas de mortalidade materna, responsável por cerca de 5% do total. A legislação brasileira só permite a prática em três casos: gestação decorrente de estupro, anencefalia fetal e quando há risco de vida à mulher ou menina.
Incompatível com a Vida: * * * *
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