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“La Chimera” é maravilhamento livre como um sonho

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“La Chimera” é maravilhamento livre como um sonho Filmes da Mostra/Divulgação

Uma das realizadoras mais instigantes do cinema contemporâneo, a italiana Alice Rohrwacher está de volta às telas com a fábula encantadora La Chimera (2023). Exibido na seleção oficial do Festival de Cannes do ano passado, o filme estrelado pela brasileira Carol Duarte e ainda por Isabella Rossellini, Alba RohrwacherJosh O’Connor – que também está em Rivais (2024), outra das estreias da semana – narra a excêntrica história de um jovem arqueólogo na Itália central que se envolve com um grupo de ladrões de túmulos repletos de relíquias da era etrusca.

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Em La Chimera, o inglês Arthur (O’Connor) roda uma região italiana indefinida em uma época igualmente incerta buscando tesouros antigos enterrados cuja localização ele diz pressentir graças a um sentido especial. Além dos artefatos, o personagem usa esse suposto dom para tentar achar um mitológico caminho para a vida após a morte e enfim reencontrar a amada perdida, como Orfeu – lembrado no começo do filme também por um trecho da abertura da ópera de Monteverdi sobre o mito grego.

Filmes da Mostra/Divulgação

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Nessa jornada, Arthur vai topar com vivos e mortos, florestas e cidades, campesinos e músicos mambembes, mulheres temíveis e encantadoras, comerciantes de arte e saqueadores de sepulturas – todos de alguma forma em busca de sua própria quimera. Entre as figuras que surgem em sua errância, o protagonista topa com a encantadora Italia, personagem de nome sugestivo interpretado pela brasileira Carol Duarte – atriz que despontou com A Vida Invisível (2019), de Karim Aïnouz, e que surpreende positivamente no registro cômico em La Chimera.

Como em seus anteriores filmes As Maravilhas (2014) e Feliz como Lázaro (2018), a diretora e roteirista Alice Rohrwacher cria em La Chimera uma narrativa que parece suspensa no tempo e no espaço, como se história pertencesse a uma dimensão mítica anacrônica e desterrada. Como poucos realizadores logram conseguir, Rohrwacher instaura um universo particular que, a despeito de suas excentricidades e idiossincrasias, possui uma dinâmica singular capaz de engajar com naturalidade o espectador nos deslumbramentos e decepções, alegrias e tristezas de situações e personagens – por mais inusitados e mesmo fabulosos que possam ser.

Ambientado na primeira metade em paisagens bucólicas e na parte final em cenários mais urbanos – da mesma maneira que nos dois títulos precedentes de sua trilogia de maravilhamentos fílmicos –, La Chimera é livre e mágico como um sonho atemporal que se passa em um país ignoto. A influência do universo poético do mestre Federico Fellini manifesta-se no comportamento dos personagens mais exuberantes e marca o tom de diversas passagens da história, explicitando-se em pelo menos dois momentos: na sequência em que uma estátua antiga é içada nos ares por um guindaste, lembrando a imagem de Cristo voando sobre a cidade transportada por um helicóptero em A Doce Vida (1960), e nas breves cenas que registram o apagamento de pinturas ancestrais nas paredes de um túmulo etrusco assim que entram em contato com o ar, reproduzindo o comovente episódio em que os afrescos romanos recém-descobertos durante as escavações do metrô se desmancham espetacularmente diante dos olhos dos trabalhadores em Roma de Fellini (1972).

Filmes da Mostra/Divulgação

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La Chimera: * * * * *

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer de La Chimera:

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