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“La Parle” filma com celular as ondas da vida

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“La Parle” filma com celular as ondas da vida Pandora Filmes/Divulgação

Tudo começou na residência artística Les Ateliers du Cinéma, promovida pelo cineasta Claude Lelouch ao longo de um ano em Beaune, na França. Gabriela Boeri, a única brasileira do grupo, conheceu por lá Fanny Boldini, Kevin Vanstaen e Simon Boulier, e juntos fizeram o longa de ficção La Parle (2022), em que os quatro refletem sobre experiências passadas e tentam traçar caminhos futuros.

O filme teve sua première mundial no Festival International du Film de Saint-Jean-de-Luz, na França, em 2022, e estreou na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. La Parle foi filmado quase inteiramente com celulares iPhone.

“O iPhone nos deu mobilidade para viver ao invés de atuar. Queríamos explorar esse aparelho que as pessoas usam para gravar constantemente, das coisas mais insignificantes aos grandes eventos. Como estão todos, o tempo todo, com seus celulares, a gente passava despercebido durante as filmagens. Isso contribuiu para o tom documental da narrativa. Assumimos as imperfeições da imagem e também das nossas vidas, buscando transformar o ordinário em extraordinário”, explica Gabriela.

Pandora Filmes/Divulgação

Além de dirigir, o quarteto também assina o roteiro e atua no filme, realizado em três momentos entre 2018 e 2020. Entre cada um deles, o grupo montava o que já tinha sido filmado e, posteriormente, reescrevia o roteiro.

“Tínhamos um roteiro inicial, que foi nosso ponto de partida. Compartilhamos questões e conflitos reais das nossas vidas e, a partir deles, escrevemos uma ficção. Conforme fomos filmando e montando as cenas, também fomos alterando essa base e incorporando as transformações que estávamos vivendo. Como nunca tínhamos atuado, os conflitos reais nos ajudaram muito na interpretação das cenas de ficção. Essa mistura de realidade e ficção é a essência da narrativa. O fato de sermos os protagonistas e de termos filmado com o celular também faz parte da gramática desse roteiro”, acrescenta Gabriela.

Na trama, Fanny, Kevin e Simon se juntam a Gabriela para passar as férias de verão na costa basca francesa. O lugar é famoso por reunir pessoas ao redor de La Parle, uma onda que, segundo a tradição local, revira sentimentos e traz resoluções.

Pandora Filmes/Divulgação

Enquanto Fanny precisa lidar com a iminência de um exame médico que pode revelar uma doença grave, Gabriela, longe da família no Brasil, questiona o futuro. Já Kevin tenta se ocupar com o trabalho, mas sua mente está em outro lugar, remoendo ressentimentos do passado. Simon, por sua vez, apenas quer que o grupo se divirta.

A escolha pelo iPhone como ferramenta partiu de uma experiência no ateliê com Claude Lelouch – cineasta francês vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes e do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro por Um Homem, uma Mulher (1966). “Ele resolveu projetar no cinema da residência uma mesma cena filmada com câmeras diferentes, dentre elas a câmera do iPhone. Ele estava interessado nessa textura diferente e na emoção que ela gera.”

Gabriela conta que o quarteto ficou muito impactado e, naquela noite mesmo, decidiu que faria um filme juntos: “A textura das imagens filmadas com o celular é a emoção do nosso tempo. Aquilo que vemos como defeito também faz parte dessa linguagem. Como podemos incorporar isso numa narrativa onde o público possa se identificar de forma íntima e direta?”.

Pandora Filmes/Divulgação

La Parle: * * * *

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer deLa Parle:

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