Exibido no Festival de Berlim do ano passado, A Linha (2022) aborda os desdobramentos de um dramático embate familiar. No filme dirigido pela francesa Ursula Meier, uma jovem é sentenciada a uma medida restritiva depois de uma briga violenta com a mãe, sendo obrigada a manter pelo menos cem metros de distância da casa da família.
Na história de A Linha, durante uma discussão acalorada, Margaret (Stéphanie Blanchoud) acaba atacando violentamente a mãe, Christina (Valeria Bruni Tedeschi). A confusão resulta em uma ordem de restrição de três meses contra a filha.
A filha caçula Marion (Ellie Spagnolo) é encarregada pela mãe de pintar uma linha representando o limite de cem metros em volta da casa – o que apenas intensifica o desejo de Margaret de ficar perto da família. Ao se aproximar da linha todos os dias, sua teimosia reflete os conflitos dessa família disfuncional.
A diretora e roteirista Ursula Meier tem na filmografia longas como Home (2008), estrelado por Isabelle Huppert, e Minha Irmã (2012), com Léa Seydoux – ambos dramas centrados em conflitos familiares. Como nesses títulos, as atuações femininas se destacam em A Linha – cujo elenco inclui ainda a atriz francesa India Hair.
A atriz e cantora belga Stéphanie Blanchoud impressiona em cena, imprimindo gravidade e tensão constantes a sua personagem Margaret graças a seu rosto expressivo de traços fortes. Já a italiana Valeria Bruni Tedeschi, irmã da modelo, cantora e ex-primeira-dama francesa Carla Bruni, é diretora do filme Atrizes (2007), vencedor do Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes.
Com produção dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, realizadores belgas célebres por seus filmes de cunho realista e humanista, A Linha é dedicado a Jean-François Stévenin, ator francês morto em 2021 que faz um pequeno papel no longa.
À primeira vista, A Linha pode frustrar as expectativas de quem espera mais informações a respeito da relação entre mãe e filha e as razões do violento rompimento entre elas. Porém, são justamente essas lacunas que enriquecem dramaticamente a história, instigando o público a deduzir ou supor o histórico e as motivações das mulheres daquela família fraturada formada exclusivamente por mulheres – inclusive permitindo ao espectador projetar suas próprias memórias e experiências nas personagens na tela.
Para além do silêncio a respeito de suas íntimas emoções e ressentimentos, mãe e filhas são ligadas pelo tênue, mas forte liame da música: a matriarca Christina é uma ex-concertista de piano que alcançou no passado certo destaque no mundo erudito, Margaret é uma cantautora de carreira errática – como tudo o mais em sua vida – e a adolescente Marion destaca-se pela bela voz cantando hinos religiosos.
A Linha: * * * *
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