Pandora Filmes/Divulgação
O Traidor (2019), mais recente filme do cineasta italiano Marco Bellocchio, chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (14/4). Chamado pelo jornal inglês The Guardian de “Os Bons Companheiros da vida real”, o longa protagonizado por Pierfrancesco Favino e Maria Fernanda Cândido narra a trajetória de Tommaso Buscetta, mafioso que morou no Brasil nos anos 1970 e 1980 e ganhou notoriedade ao delatar os chefes da Cosa Nostra siciliana.
Com cenas rodadas no Rio de Janeiro, a produção teve sua première no Festival de Cannes e ganhou vários David di Donatello, o prêmio da Academia Italiana de Cinema – entre eles, melhor filme, diretor, ator principal (Favino) e coadjuvante (Luigi Lo Cascio). Conhecido por filmes politicamente engajados como A China Está Próxima (1967), Bom Dia, Noite (2003) e Vincere (2009), o veterano Bellocchio conta em O Traidor mais um episódio da história italiana. Colaborador da justiça italiana, Buscetta acabou se escondendo no Rio no começo da década de 1980, deixando parte da família em seu país natal, sofrendo as consequências de seus atos. A atriz brasileira Maria Fernanda Cândido interpreta Maria Cristina de Almeida Guimarães, brasileira casada com Tommaso Buscetta.
Indicado ao prêmio César de Melhor Filme Estrangeiro e também ao European Film Awards, O Traidor partiu de uma longa pesquisa de Bellocchio, que assina o roteiro com Valia Santella, Ludovica Rampoldi e Francesco Piccolo. O roteirista e cineasta brasileiro Felipe Sholl também colaborou no texto do longa. “Quanto mais eu me aprofundava no tema, mais complexo ficava o personagem”, disse o diretor italiano em entrevista. Na Itália, Buscetta é um personagem controverso, chamado de herói por uns e desprezado por outros – inclusive por membros de sua própria família. O criminoso morreu em abril de 2000, nos Estados Unidos.
“É um personagem fascinante, não apenas por sua ambiguidade, mas todo mundo que o conheceu dizia que tinha um caráter forte, mas também não tinha muita cultura. E incorporamos isso ao filme. É o único ponto em que Buscetta revela um tipo de fragilidade. Nos outros momentos, ele é um homem muito orgulhoso. É um personagem que tem uma teatralidade e uma personalidade muito bem construída”, explica Bellocchio.
Já Favino – um dos melhores atores italianos da atualidade, que se destacou também em títulos como Suburra (2015) e Irmãos à Italiana (2020) – caracterizou o personagem como um desafio e uma chance maravilhosa para qualquer intérprete: “Assisti a muitos vídeos dele, li livros que ele escreveu com jornalistas, portanto, se eu queria encontrar algo que não fosse a ideia que ele fazia de si mesmo, eu precisava me aprofundar mais nessa figura, descobrir buracos na parede que ele construiu em torno de si, e acabei achando. Havia muito do lado pessoal, político e criminoso na história dele que poderia ser explorado”.
Para além da impressionante desempenho de Pierfrancesco Favino, que empresta complexidade à figura de Tommaso Buscetta, o filme destaca-se pelas ótimas atuações do elenco de apoio – incluindo Maria Fernanda Cândido. Diretor de dramas provocativos atravessados por desejo, subjetividade e política como Diabo no Corpo (1986), A Bela que Dorme (2012) e Sangue do Meu Sangue (2015), Marco Bellocchio perpassa O Traidor com essas abordagens, acrescentando outras perspectivas e adensando sua cinebiografia de corte policialesco.
O Traidor: * * * *
COTAÇÕES
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