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“O Acidente” atropela as vidas de duas mulheres

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“O Acidente” atropela as vidas de duas mulheres Glauco Firpo/Divulgação

Estreia na direção em longas de Bruno Carboni, o filme O Acidente (2022) levou três prêmios na competição de longas gaúchos no recente Festival de Cinema de Gramado: melhor atriz (Carol Martins), roteiro e direção de arte. O longa de estreia do diretor Bruno Carboni acompanha os desdobramentos psicológicos e emocionais de um atropelamento envolvendo uma motorista e uma ciclista.

O Acidente teve sua estreia em competição nos festivais Tallinn Black Nights (Estônia)Festival do RioCine Ceará, levando o prêmio de melhor roteiro no Festival de Beijing, na China. Na trama, Joana (Carol) é atropelada depois de se colocar com sua bicicleta na frente do carro de Elaine (Gabriela Greco).

Tuane Eggers/Divulgação

Maicon (Luis Felipe Xavier), filho da motorista que estava sentado ao lado, registra o incidente com o celular e posta depois na internet a imagem de Joana sendo carregada no capô do automóvel da mãe.

Joana volta para casa e tenta retomar a normalidade da rotina ao lado da companheira Cecília (Carina Sehn), com quem divide o apartamento e grandes planos para o futuro. Mas o acidente volta a se intrometer na vida da jovem quando Cléber (Marcello Crawshawn), que luta pela guarda do filho Maicon na justiça, entra em contato pedindo que ela testemunhe contra a mãe do garoto.

Tuane Eggers/Divulgação

Ao mesmo tempo em que perscruta os dilemas íntimos da protagonista, o drama reflete sobre as motivações e os formatos possíveis de famílias contemporâneas. O Acidente opõe duas delas: uma homoafetiva, representada pela ciclista e sua namorada, e outra tradicional, em que o casal enfrenta um processo de separação litigioso e a ausência de conexão com o filho adolescente.

“A primeira inspiração para o filme surgiu de um vídeo que encontrei na internet há alguns anos, no qual mostrava uma ciclista sendo carregada no capô de um carro dirigido por outra mulher”, relembra o diretor Bruno Carboni. Embora a descrição possa sugerir uma cena trágica, ninguém se machucou ali.

“Talvez aquele vídeo fosse menos chocante do que se vê nos noticiários, entretanto, aquele pequeno incidente me parecia representar um certo sentimento de inimizade no ar, fruto da polarização política que dividia a sociedade brasileira e impossibilitava qualquer tentativa de diálogo”, acrescenta o realizador. O filme foi rodado em Porto Alegre, em 2019 – um ano após as eleições presidenciais e um antes da pandemia.

Glauco Firpo/Divulgação

Carboni lembra que, ainda durante a concepção do filme, seus próprios pais sofreram um grave acidente de carro: “Uma situação assim sempre muda alguma coisa naqueles que a vivenciam, e é o espectro constante dessa possibilidade que é assustador. Assim, onde antes eu via um embate representativo na sociedade, agora passava a ser um inesperado encontro de pessoas, evento que certamente alterou de alguma maneira as suas vidas”.

O diretor Bruno Carboni é montador de de diversos filmes gaúchos, como os premiados longas Castanha (2014) e Rifle (2016), ambos de Davi Pretto, e Beira-Mar (2015), de Filipe Matzembacher e Marcio Reolon. Como realizador, estreou no curta-metragem com Quarto de Espera (2009), codirigido com Davi Pretto e selecionado por mais de 25 festivais. O primeiro curta solo de Bruno Carboni é o ótimo e premiado O Teto Sobre Nós (2015), que teve sua estreia mundial no 68º Festival de Cinema de Locarno, na competição Leopards of Tomorrow.

O Acidente entra em cartaz no mesmo mês em que três outros longas gaúchos chegaram aos cinemas: Depois de Ser Cinza (2020), Casa Vazia (2021) e Despedida (2022). Merecem destaque em O Acidente a fotografia majoritariamente noturna de Glauco Firpo e a trilha sonora assinada por Maria Beraldo, que conduz o espectador por caminhos sonoros sinuosos e enigmáticos em temas nos quais se destacam os solos e melodias com clarones e clarinetes.

O Acidente investe em sutilezas e situações inconclusivas para construir uma narrativa de afetos erráticos. Carol Martins e Gabriela Greco exprimem os sentimentos de suas personagens antagonistas mais por meio de olhares, expressões e posturas do que por palavras. O excesso de reticências, porém, acaba comprometendo o ritmo e diluindo a força dos encontros, atritos e revelações da história.

Glauco Firpo/Divulgação

O Acidente: * * *

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer de O Acidente:

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