Artigos | Cinema

“O Crime É Meu” faz troça da hipocrisia patriarcal

Change Size Text
“O Crime É Meu” faz troça da hipocrisia patriarcal Imovision/Divulgação

Na prolífica filmografia de François Ozon, sempre há espaço para a crítica ácida ao comportamento burguês, seja em tom de tragédia, drama ou farsa – caso de O Crime É Meu (2023), mais recente produção do cineasta francês. Nessa deliciosa comédia policial, um crime passional é o primeiro ato de uma encenação que denuncia a hipocrisia da sociedade machista e patriarcal da França de meados dos anos 1930.

Paris, 1930. Madeleine, uma atriz jovem, pobre e sem talento é acusada de assassinar um famoso produtor. Sua melhor amiga, Pauline, uma advogada desempregada, a defende e ela é absolvida por legítima defesa. Uma nova vida de fama e sucesso começa, até que a verdade por trás do crime é finalmente revelada.

Em O Crime É Meu, a jovem e pobre atriz Madeleine (Nadia Tereszkiewicz) é acusada de assassinar um famoso produtor teatral que a assediou sexualmente durante um encontro em sua casa, marcado sob o pretexto de arranjar trabalho para a moça. Mesmo sendo inocente, Madeleine decide assumir o crime e vai ao tribunal, sendo defendida pela amiga Pauline (Rebecca Marder), uma advogada desempregada com quem Madeleine divide um pequeno apartamento – a ideia de ambas é ganharem notoriedade com o julgamento e de alguma maneira saírem da situação precária em que vivem.

Imovision/Divulgação

O plano sai melhor do que a encomenda: Madeleine é absolvida por legítima defesa e sua carreira no teatro e no cinema decola, enquanto Pauline é procurada para defender vários casos de assassinato. No entanto, a súbita entrada em cena de uma figura que alega ser a verdadeira assassina coloca em risco a glória alcançada pelas amigas como justiceiras feministas.

Sucesso de público na França, o filme é uma adaptação livre da peça teatral Mon Crime, de 1934, de Georges Berr e Louis Verneuil, adaptada anteriormente para o cinema por Hollywood duas vezes: em A Mentirosa (1946) e Confissão de Mulher (1937). O Crime É Meu forma uma espécie de trilogia de comédias de costumes de época de François Ozon, iniciada com o musical 8 Mulheres (2002) e continuada em Potiche – Esposa Troféu (2010).

O Crime É Meu pontua sua narrativa fluida e ligeira com estocadas ferozes às convenções sociais, confrontadas pelas atitudes libertárias e imorais de personagens à margem desse teatro de imposturas – como costumava fazer o mestre Claude Chabrol em suas parábolas antiburguesas de corte policial. Aliás, a influência do cineasta francês, inequívoca referência na obra de Ozon, é referendada em O Crime É Meu em citações a Violette Nozière, adolescente francesa de origem proletária célebre na década de 1930 por envenenar os pais, retratada no cinema por Chabrol em Violette (1978) na pele de Isabelle Huppert.

A maior atriz do cinema internacional contemporâneo, por sinal, também brilha em O Crime É Meu: Huppert – que pode ser vista atualmente também em A Sindicalista (2022) e Uma Vida sem Ele (2022) – está divertidíssima no filme de Ozon como uma decadente estrela do cinema mudo, cuja caracterização é uma caricatura da diva do teatro Sarah Bernhardt.

Isabelle Huppert desafia a indústria nuclear em “A Sindicalista”

Isabelle Huppert ilumina “Uma Vida sem Ele”

O Crime É Meu reúne ainda um time de atores experientes que se esbalda em cena em atuações histriônicas, como Fabrice Luchini, André Dussolier e Dany Boon. Como contraponto à tarimba desses astros veteranos, o filme destaca o frescor e o encanto das duas atrizes principais, Nadia Tereszkiewicz e Rebecca Marder – que iluminou recentemente as telas como protagonista de A Garota Radiante (2021).

“A Garota Radiante” celebra a vida em tempos de morte

Imovision/Divulgação

Imovision/Divulgação

O Crime É Meu: * * * * *

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer de O Crime É Meu:

RELACIONADAS
PUBLICIDADE

Esqueceu sua senha?