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O passado se esconde nas ruas de Nápoles em “Nostalgia”

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O passado se esconde nas ruas de Nápoles em “Nostalgia” Pandora Filmes/Divulgação

Exibido no Festival de Cannes de 2022 e indicado em nove categorias no David di Donatello – prêmio da Academia Italiana de Cinema –, Nostalgia (2022) é estrelado por Pierfrancesco Favino, o mais celebrado ator do cinema italiano contemporâneo. O novo filme do diretor Mario Martone faz um retrato cru e emotivo das transformações e mudanças pelas quais passaram tanto Nápoles quanto o protagonista que retorna à cidade natal depois de 40 anos.

Favino interpreta Felice Lasco, um homem que volta à Itália após ter saído do país há quatro décadas e recomeçado a vida no Líbano e depois no Egito. Nesse reencontro com o passado, o personagem revê a mãe idosa e confronta-se com uma Nápoles para ele agora quase irreconhecível, acuada pela Camorra – a máfia napolitana –, que tem como um dos líderes Oreste, antigo amigo da adolescência rebelde e contraventora de Felice.

Pandora Filmes/Divulgação

Com roteiro assinado pelo diretor Mario Martone e Ippolita Di Majo, Nostalgia é inspirado no romance homônimo do escritor e jornalista Ermanno Rea (1927 – 2016). Amigo do mestre Abbas Kiarostami, o cineasta italiano confessou que se inspirou no cinema iraniano em seu filme: “Gosto do cinema iraniano por vários motivos. Os filmes dos diretores iranianos são rodados na rua, você vê pessoas reais, e aí eles têm força para ainda serem contos morais. Nostalgia é um pouco disso também, e isso não é mais comum”.

Nascido em Roma, Pierfrancesco Favino – visto recentemente em filmes como O Traidor (2019), Irmãos à Italiana (2020) e O Colibri (2022) – revela que o maior desafio para o papel foi aprender o dialeto napolitano: “Na Itália, há um enorme respeito pela língua napolitana. Todos os nossos dramaturgos vêm de Nápoles. E há uma história incrível de atores napolitanos que sempre admirei. E eu estava cercado por napolitanos, então não só tive que aprender, mas também temi o julgamento deles”. Além disso, o ator também aprendeu um pouco de árabe para o filme, por conta da vida de seu personagem no Oriente Médio e no norte da África.

Pandora Filmes/Divulgação

Segundo Martone, a ideia foi captar o espírito da cidade deixando que o cotidiano real dos napolitanos impregnasse a narrativa ficcional filmada: “Fiquei fascinado com a ideia de fazer um filme não dentro de uma cidade, mas dentro de um bairro, como se fosse um tabuleiro de xadrez, e por isso todas as ruas, casas e indivíduos que aparecem no filme são exclusivamente do Rione Sanità, um bairro napolitano separado do mar”.

Ao mesmo tempo acolhedora e hostil, solar e sombria, labiríntica e aberta, a Nápoles de Nostalgia espelha as ambiguidades do protagonista, que não sabe ao certo o que busca. Dividido entre as cálidas lembranças da juventude e a áspera realidade que depara no presente, Felice nutre pelo esquivo e violente Oreste sentimentos e expectativas conflitantes, que se alternam entre carinho, saudade, ressentimento e ânsia por expiação.

Favino expressa com sensibilidade o permanente estado de inadequação de seu personagem, passeando por sentimentos e desejos contraditórios da mesma forma como erra pelas vielas da cidade. Acima de qualquer motivação, Felice é movido por uma culpa do passado que o devora e deseja purgar de alguma forma, ainda que não saiba como – uma angústia existencial cujo desfecho é traduzido de maneira ironicamente cruel pelo título Nostalgia.

Pandora Filmes/Divulgação

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Nostalgia: * * * *

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer de Nostalgia:

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